“Esta resposta, pioneira na Região Autónoma dos Açores, pretende contribuir para uma rede global de respostas integradas e complementares, quer ao nível do tratamento, quer ao nível da prevenção primária e promoção de hábitos de vida saudáveis”, avançou Marco Pavão, na apresentação do projeto, em Angra do Heroísmo.
Em causa estão dependências não associadas ao consumo de substâncias, decorrentes de novos hábitos sociais, como o uso de redes sociais, videojogos, jogos ‘online’, cibersexo e visualização de pornografia, ligados às novas tecnologias, mas também jogos de fortuna e azar, jogos sociais, compulsão por compras e exercício físico levado ao extremo.
“Há que sensibilizar os pais, há que educar as novas gerações e as atuais gerações para que percebam o problema. Grande parte das pessoas não está desperta para isto e para a maior parte das pessoas dependência é toxicodependências, drogas e álcool e não a questão de uma compulsão por compras, do jogo, da utilização das redes sociais ou dos jogos ‘online’”, salientou o diretor da Casa de Saúde de São Rafael, do Instituto de São João de Deus.
Segundo Marco Pavão, o alargamento da resposta a este tipo de dependências surge na sequência da falta de informação sobre o fenómeno.
“De uma forma geral, esta necessidade chega-nos através dos nossos psicólogos e das nossas equipas. Há muitos pedidos de esclarecimento de informação sobre como proceder em caso de adição a estas novas problemáticas”, justificou.
Além de alargar a capacidade de internamento a utentes com este tipo de dependências, a instituição pretende criar um “centro de dia específico para perturbações para o uso do álcool e novas dependências comportamentais”, que assegure o acompanhamento pós-alta.
“O encaminhamento de utentes para a unidade de alcoologia e novas dependências comportamentais é efetuado por referenciação hospitalar após consulta com o médico psiquiatra e o internamento decorre em regime fechado, durante três a cinco semanas, com um programa de intervenção específico, focado na terapia cognitivo-comportamental”, adiantou Marco Pavão, acrescentando que o período de acompanhamento pós-alta pode decorrer entre um a três anos.
A unidade de alcoologia da Casa de Saúde de São Rafael, existente há 22 anos e alargada agora às novas dependências comportamentais, tem atualmente capacidade para internamento de nove utentes, mas prevê-se aumentá-la para 12, com a realização de obras nos próximos dois anos.
“Não se espera que, de hoje para amanhã, apareçam aqui dezenas de pessoas com estes problemas, mas só o facto de saber que havendo um problema há uma resposta para ele passa a fazer todo o sentido”, salientou o diretor da instituição.
O secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, presente na apresentação do projeto, realçou a importância da iniciativa, alegando que este tipo de dependências “afeta de forma intensa uma parte substancial da sociedade”, mas “normalmente não é atacado em termos de políticas e de programas, uma vez que estão orientados para as dependências com substâncias”.
O governante considerou, por outro lado, que é preciso fazer uma “inversão no sentido da prevenção”, na saúde a nível geral, mas também nas dependências.
“É através da prevenção que conseguimos ser mais eficazes. É preciso haver um investimento muito determinado nessa área em termos financeiros, mas também em termos humanos, para que as repostas, que serão alcançadas certamente a médio e longo prazo, sejam efetivas”, salientou.
LUSA/HN
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