Presidente do INSA diz que não se pode facilitar porque pode ocorrer “onda muito pior”

2 de Maio 2020

O presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) considera que o combate à covid-19 trouxe várias lições, sobretudo o não se poder facilitar porque pode acontecer “uma onda muito pior”.

“Não podemos facilitar porque isto tem ondas e pode acontecer uma onda muito pior, porque é aquilo que se diz: basta levantar um bocadinho o pé da mola, a mola volta a disparar”, diz Fernando Almeida, lembrando que o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, propaga-se com “muita facilidade” e ainda se sabe pouco sobre ele.

A pandemia de covid-19 levou a uma mudança de comportamentos da população que, diz Fernando Almeida, se vão manter.

“Os nossos comportamentos daqui para o futuro jamais serão os mesmos, mas não é para agora, um ou dois anos ou três anos, jamais serão os mesmos”, vinca o presidente do INSA, o laboratório nacional de referência em questões de epidemiologia e saúde pública.

Para Fernando Almeida, “o primeiro ensinamento” retirado da pandemia é que “nunca aconteceu o que está a acontecer”.

“Todos nós pensamos que a SARS (doença respiratória aguda também provocada por um coronavírus que deu origem a uma epidemia em 2003) foi uma coisa que aconteceu há muito tempo, a gripe A aconteceu mas não teve nada deste efeito” causado pela covid-19, que além de ter um “impacto muito grande” é uma doença sobre a qual “ainda se sabe muito pouco”.

Fernando Almeida observa que “os estudos que aparecem são muito contraditórios” em termos de tempo de incubação, de segurança e de imunidade. “Se dá muita imunidade, se a imunidade é duradoura, ainda se sabe muito pouco, porque a ciência ainda não é suficientemente robusta para tirarmos conclusões muito concretas”.

“Há uma lição que nós temos que aprender é que nunca mais isto vai ser igual, os nossos hábitos, as nossas opções estão mudadas totalmente e vão ser mudadas totalmente”, considera.

A Organização Mundial de Saúde sempre mencionou que ciclicamente vão aparecendo este tipo de doenças, a maior parte delas ligadas a alterações virais.

“Até diziam que ia haver uma doença, que não sabiam bem qual era, que era a doença X. Ora bem, aqui está ela. Quando todos nós esperávamos que era uma coisa que iria ficar confinada num país, ela está cá e com este impacto, que não é só um impacto na vida das pessoas, em todos os aspetos, mas também impacto da economia do país e de todos os países”.

Para Fernando Almeida, este é o segundo ensinamento: “não vale a pena dizermos que só acontece aos outros. Não, também nos acontece a nós e temos que estar sempre preparados para o pior, esperando que aconteça o melhor”.

O presidente do INSA destaca ainda a importância das medidas aplicadas no país para conter a disseminação do vírus. “Portugal teve a vantagem de perceber o que se estava a passar em outros países, como Itália, Espanha e França, e de se preparar com algum tempo”.

“As decisões que foram tomadas são, e foram, fundamentais para que esta epidemia, sobretudo a pandemia em Portugal, não atingisse aquilo que era expectável por aquele crescimento exponencial dos quadros”, afirma.

“As estruturas estão a responder bem, os hospitais estão a responder bem, temos bons níveis de testes, tudo está a correr bem”, mas “não vamos facilitar”, esta é a terceira lição, nota Fernando Almeida.

O coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica, do INSA, Baltazar Nunes, também realça a importância das medidas de confinamento decretadas “numa fase inicial” da doença no país.

“Foi necessário tomar estas medidas porque não sabíamos exatamente quais seriam as mais eficazes na contenção e não havia tempo”, adianta.

Sobre o fim do estado de emergência em 02 de maio e a abertura gradual da atividade, o epidemiologista defende terá de ser “feita cirurgicamente, começando por determinados setores”.

“Façam-no de forma gradual, desenvolvam sistemas de vigilância que permitam perceber qual foi o impacto do levantamento de cada uma destas medidas, assegurando que as pessoas têm que ter comportamentos diferentes daqueles que tinham antes da epidemia”, apela Baltazar Nunes.

“Isso é essencial para conseguirmos que o tal crescimento que venha a ocorrer seja lento e gerível”, sustenta o investigador.

LUSA/HN

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