Paulo Cleto Duarte Presidente da Associação Nacional das Farmácias

Vencer a covid-19

05/08/2020

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Vencer a covid-19

08/05/2020 | Covid 19, Opinião

A pandemia de Covid-19 é provavelmente o acontecimento histórico à escala global mais importante das nossas vidas.
Como as gerações que viveram o terramoto de Lisboa, a grande fome ou as guerras mundiais, somos chamados a suportar o lado trágico dos acontecimentos – sem nunca nos rendermos ou aceitarmos a catástrofe como destino.

Esta pandemia trouxe para o nosso dia-a-dia uma trilogia cruel: medo, morte e destruição económica. Todos vivemos estes dramas. Cada um de nós, sente-os de forma singular.

A mim, dói-me horrores estar fisicamente afastado dos meus pais e dos meus sogros, que são os quatro doentes de alto risco. Também me custa muito estar privado do convívio com os meus amigos e colegas de trabalho. Gosto de pessoas. Preciso de sentir os seus afectos. É muito mais difícil tomar decisões sem a maravilhosa informação emocional do contacto directo.

Como um negativo das fotografias antigas, a pandemia pode revelar-nos o que é mais importante na vida.

Estou atento às lições da Covid-19, quero muito aproveitá-las no futuro.

Não podemos escolher o momento da História em que vivemos. Mas podemos escolher, ou pelo menos influenciar, o nosso papel – e como gostaríamos de ser recordados.

Tal e qual os mestres de judo, temos de aproveitar a força do inimigo para virar o combate a nosso favor.

Confinado em casa, a pandemia ensinou-me a disfrutar plenamente da magnífica panóplia de ferramentas informáticas, de reunião e de partilha de informação, que já antes poderia ter usado mais.

Graças a essa tecnologia, ganhei tempo para a família. Nunca tinha passado tantas horas seguidas com os meus filhos – e isso é uma dádiva divina do vírus, que o torna um pouco menos desumano aos meus olhos.

Continuei a fazer as minhas caminhadas e a passear o cão Kai, nisso ele não tocou. Inexplicavelmente, antes me deu a oportunidade de ir mais vezes às compras e de saltar menos refeições.

Há muitas coisas formidáveis que dantes conseguia adiar por uma ou outra boa razão. Essas justificações parecem-me agora desculpas.
Não passei a trabalhar menos horas do que antes, antes pelo contrário.

Como presidente da Associação Nacional das Farmácias, senti a urgência e o carácter decisivo deste momento.
Como maior rede de saúde pública, as farmácias tinham uma grande responsabilidade:
Permitir a todos os doentes, em condições de igualdade, em qualquer ponto do território, permanecer tranquilamente em casa.
Fizemos várias coisas para materializar este grande objectivo de Saúde Pública.

Primeiro, lançámos o serviço de atendimento e aconselhamento farmacêutico 1400. Com uma chamada telefónica gratuita, qualquer cidadão tem agora acesso a medicamentos, produtos de saúde e aconselhamento farmacêutico.

Segundo, passámos a entregar medicamentos em todos os domicílios do continente ou das ilhas.

Terceiro, garantimos aos portadores de sida, cancro, esclerose múltipla e outras doenças severas, a dispensa de medicamentos em casa, ou na farmácia da preferência de cada um. Milhares de doentes de risco não precisaram de se deslocar aos hospitais para levantar os fármacos necessários aos respectivos tratamentos.

Fizemos isto a título gracioso, porque vivemos tempos de pandemia. A rede de emergência Abem está a satisfazer as necessidades dos portugueses mais carenciados.
A nossa prioridade é clara:
Primeiro, é necessário resolver o problema sanitário que ameaça os portugueses. Só depois trataremos da crise das farmácias. Esta pandeia mostrou-nos como cada pessoa é tão importante para todas as outras – e essa é talvez a maior lição para as nossas vidas.
Agora, cada cidadão importa. Pode ser um soldado da morte ou um aliado na guerra mundial contra o vírus.

Como presidente da ANF, agradeço o comportamento cívico de cada português nas deslocações às farmácias.
As farmácias agradecem a todos os profissionais que correm riscos neste período para manter a economia a funcionar, dos bombeiros aos polícias, dos carteiros aos pescadores, dos funcionários municipais aos professores.

As farmácias saúdam com admiração e respeito os médicos, enfermeiros e outros profissionais dos hospitais que estão a tratar dos nossos doentes, com coronavírus e outras doenças.

As farmácias reconhecem à Ordem dos Médicos, à Ordem dos Farmacêuticos, à ASAE, aos parceiros do sector do medicamento e ao Governo o apoio que nos deram para cumprir a nossa missão.

Uma palavra especial para os farmacêuticos hospitalares, que tão bem se articularam com os farmacêuticos comunitários para resolver da melhor maneira os problemas das pessoas.

Agradeço, comovido, a cada soldado das equipas das farmácias e da ANF.

Finalmente, deixo uma palavra de reconhecido respeito aos nossos fundadores, que há 45 anos tiveram a visão de começar a preparar a nossa rede para este momento.

 

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