Estudo científico conclui que Atitude de Bolsonaro aumenta “comportamento de risco” no Brasil

9 de Maio 2020

O enfraquecimento público de Jair Bolsonaro nos esforços de prevenção da pandemia reduz o distanciamento social nas zonas do Brasil onde a sua base de eleitores é mais forte

O enfraquecimento público de Jair Bolsonaro nos esforços de prevenção da pandemia reduz o distanciamento social nas zonas do Brasil onde a sua base de eleitores é mais forte, de acordo com um novo estudo que utiliza os dados de localização de mais de 60 milhões de telemóveis.

Os economistas usaram os dados eleitorais e a localização geográfica anónima de dispositivos em todo o Brasil para investigar se a atitude do presidente contra a quarentena influenciou o número de cidadãos que ficam em casa para impedir a propagação do coronavírus.

Investigadores da Universidade de Cambridge e da Escola de Economia de São Paulo -FGV verificaram que os municípios que se destacaram fortemente por Bolsonaro nas últimas eleições, registaram níveis muito mais altos de movimento e viagens entre a população durante os meses de fevereiro e março.

Além disso, nos dias imediatamente seguintes às declarações de Bolsonaro na televisão em que, por exemplo, desafiou publicamente as orientações de quarentena e pediu a reabertura das escolas no Brasil, o distanciamento social diminuiu, em geral, e muito mais acentuadamente nas áreas pró Bolsonaro.

“A nossa pesquisa sugere que as declarações sobre o comportamento em saúde pública dos líderes políticos são levadas a sério pelos seus seguidores, independentemente de quão cientificamente precisas sejam ou prejudiciais”, disse Tiago Cavalcanti, da Faculdade de Economia de Cambridge.

“Bolsonaro desafia ativamente as regulamentações impostas pelos governos subnacionais para conter a maré de coronavírus. Ele descarta as recomendações da OMS e até as do seu próprio ministro da saúde, que demitiu recentemente. ”

“O Brasil é uma nação polarizada com um líder populista. Os padrões que aqui vemos podem ecoar em países com uma situação política semelhante, como os Estados Unidos”, afirmou.

Cavalcanti e os seus colegas, Nicholas Ajzenman e Daniel da Mata, analisaram a percentagem de telemóveis que permaneciam num raio de 450 metros dos domicílios entre 4 de fevereiro e 7 de abril de 2020.

Compararam esse “índice de distanciamento social” com o histórico de votação de cada um dos 5.570 municípios brasileiros, em particular onde Bolsonaro recebeu mais ou menos de 50% dos votos na primeira volta das eleições de 2018.

O distanciamento social aumentou em todo o Brasil desde o início do contágio. Nas principais cidades com maior número de votos em Bolsonaro, como Ascurra, em Santa Catarina, e Nova Santa Rosa, no Paraná, esse aumento foi, em média, de 24 pontos percentuais.

No entanto, nas cidades que menos votaram em Bolsonaro, como Paricoa, em Alagoas, e Irapuan Pinheiro, no Ceará, o distanciamento social era muito maior: um aumento de 31 pontos percentuais.

O estudo sugere que, em média, nos meses de fevereiro e de março, as cidades onde o apoio a Bolsonaro é mais alto apresentaram níveis de distanciamento social quase 30% menores do que as cidades em que Bolsonaro tem muito pouco apoio.

Os economistas também analisaram as duas principais aparições televisivas de Bolsonaro em março, durante as quais menosprezou abertamente os esforços para controlar a pandemia.

A primeira foi em 15 de março, quando Bolsonaro – que era suspeito de ter Covid-19 – apareceu num comício em Brasília, exibindo diretrizes de saúde pública, tirando “selfies” e distribuindo socos à multidão.

A segunda foi em 24 de março. Num discurso presidencial oficial, pediu para as escolas reabrirem em todo o país e criticou os “media” brasileiros pelas muitas reportagens que publicaram sobre a pandemia em Itália, sugerindo que ele só ficaria com “um pouco de gripe”, na pior das hipóteses, com a Covid-19.

A investigação mostra como essas duas intervenções televisivas fizeram com que os níveis de distanciamento social diminuíssem nos dez dias após cada evento, quando comparados com os dez dias anteriores. A queda foi particularmente significativa nos municípios com alto número de eleitores de Bolsonaro.

Baseado nestes dados, Cavalcanti calcula que, nos 10 dias seguintes à presença de Bolsonaro na televisão, um milhão adicional de brasileiros se afastou mais de 450 metros de casa.

“A liderança é importante”, diz Cavalcanti. “A atitude de um líder pode ter um impacto significativo e eventualmente devastador na saúde individual e nos sistemas de saúde de uma nação”.

“Quando Bolsonaro minimiza a pandemia, vemos aumentos significativos no que é agora um comportamento de risco em grandes setores da população brasileira”.

“Como os casos de coronavírus e as mortes continuam a aumentar em todo o Brasil, o comportamento de seu líder pode estar a ter um efeito muito real e perigoso”.

Os investigadores também descobriram que a presença de Bolsonaro na televisão e a cobertura de imprensa que se seguiu, em grande parte negativa, estavam ligadas a uma diminuição mais significativa no distanciamento social em áreas com “alto acesso aos media”.

A equipa calculou a mudança geral no distanciamento social no Brasil durante o período referido. No início de fevereiro, antes da pandemia, cerca de 20% da população brasileira ficava a 450 metros de sua casa. No início de abril, tinha aumentado para cerca de 53%.

Ligação para o artigo completo Aqui

UC/HN

 

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