O João, o Boris e o COVID

11 de Maio 2020

Aqui há dias, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson enalteceu o heroísmo demonstrado pelos britânicos para vencer a Alemanha nazi em 1945, pedindo que o país tenha o "mesmo espírito de esforço nacional" na luta contra o novo coronavírus.

Aqui há dias, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson enalteceu o heroísmo demonstrado pelos britânicos para vencer a Alemanha nazi em 1945, pedindo que o país tenha o “mesmo espírito de esforço nacional” na luta contra o novo coronavírus.

“Neste aniversário, estamos envolvidos num novo combate contra o coronavírus que exige o mesmo espírito de esforço nacional que vocês incorporaram há 75 anos”, disse o governante.

Um apelo que não afasta da memória a irresponsabilidade com que o primeiro ministro do Governo de Sua Majestade lidou com a pandemia nas primeiras semanas. Em março, fazendo juras de que o seu governo era “comandado pela ciência”, o recém-eleito primeiro-ministro parecia defender uma muito duvidosa estratégia de “imunidade de rebanho”, na esperança de que a exposição à doença promovesse a imunidade entre a população britânica, um resultado que, para felicidade de Johnson, não exigiria nenhuma ação de seu governo.

A mudança de atitude de Boris surge depois de o primeiro-ministro britânico ter conhecido um enfermeiro (por sinal português) que se manteve a seu lado para garantir que continuasse a ventilar depois de ter sido internado nos cuidados intensivos de um hospital londrino por ter contraído a doença.

Antes de conhecer João, e quando os primeiros casos de covid-19 foram confirmados no Reino Unido no final de janeiro, o Partido Conservador de Johnson alegou que estava preparado para qualquer eventualidade. O que se veio a confirmar ser uma deslavada mentira. Não estava e ainda hoje passa dificuldades para prestar cuidados à multidão de doentes que rapidamente levaram o muito eficiente National Health Service (NHS) à beira da rutura. 150 profissionais de Saúde morreram por falta de equipamentos eficazes de proteção.

Antes de conhecer o enfermeiro João, do Porto, Johnson faltou a cinco reuniões de emergência com os principais ministros do seu governo e responsáveis do NHS para discutir o coronavírus e exigia, tal como outro governante, este dos EUA (que infelizmente ainda não conheceu o João), que os relatórios informativos fossem os mais curtos possíveis. Mas fez mais, libertado dos cuidados intensivos e depois de se despedir de João, Boris foi passar um feriado numa casa de campo, recusou-se a trabalhar nos fins-de-semana e compareceu a um baile de beneficência, desrespeitando grosseiramente as regras de confinamento.

Vale aos ingleses a intervenção de João, o Enfermeiro ”de perto do Porto”.

Hoje, o mesmo Boris, contrariando a postura de quase todos os governos europeus, recusa-se a aligeirar, ainda que gradualmente, as medidas entretanto tomadas (enquanto Boris estava aos cuidados de João) pelo seu governo.

Quando ontem se esperava algum alívio do confinamento, Boris surpreendeu ao afirmar que “Ainda não é altura”. Que o momento apenas se presta a pequenos passeios, pedindo aos trabalhadores que evitem transportes públicos. Lojas só abrem em junho. E só “se”… Estiver convencido que já não vai precisar do João. 

MMM

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