Nos últimos dois meses, em plena pandemia, o mercado farmacêutico português registou variações sem precedentes. As vendas de medicamentos de prescrição médica obrigatória foram as que registaram a maior variação face a 2019. É o que mostra o estudo Market Watch Portugal, realizado pela Health Market Research, uma empresa de consultoria e elaboração de estudos de mercado, fundada em 2009.
As vendas de medicamentos sujeitos a receita médica registaram um crescimento de +35,6%, em unidades em março de 2020 face a março de 2019 e um decréscimo de -10,1% em abril de 2020 face ao mês homólogo de 2019.
A variação em cadeia das vendas, de abril de 2020 face ao mês precedente, foi de -34,7% em unidades. Já o volume de vendas em abril 2020 (15,9 M) ficou 13% abaixo da média mensal calculada em anos móveis (MAT) pré Covid19 (18,4 M unidades na média mensal do MAT fevereiro 2020).
As compras das farmácias no mês de março de 2020 registaram um aumento acentuado que se traduziu em +54,6% face a março de 2019. Apresentam também uma diferença superior face às vendas de 3,2 M de unidades, quando a diferença média absoluta mensal calculada em MAT pré Covid19 é de 0,36 M de unidades. Em abril de 2020 as compras (16,5 milhões de unidades) decrescem -6,1% face a abril de 2019, regressando a diferença entre compras e vendas neste mês – 0,55 M – a valores próximos da média mensal pré Covid19.
O Stock em unidades reforça o valor mais elevado neste período de análise em abril de 2020 (20,5 M de unidades) depois de atingir o seu máximo no mês anterior (20,1 M de unidades). O Stock de abril 2020 comparativamente a abril de 2019 corresponde a um crescimento de +25,4%.
Para estudar a origem da referida variação sem precedentes o estudo Market Watch Portugal analisou o comportamento e a dinâmica que as várias tipologias de entidades prescritoras protagonizaram.
Em abril de 2020 os cuidados de saúde primários originaram 61,8% das unidades prescritas, o valor mais alto no período em análise depois de já em março ter atingido o máximo, com 58,7% das unidades prescritas. As principais diminuições em abril de 2020, comparativamente a abril de 2019 ocorreram nos hospitais públicos, de 17,9% para 16,0%, bem como, no setor privado, de 25,2% para 22,2%. Comparando abril de 2020 com fevereiro, o mês anterior à declaração de estado de emergência, verifica-se que os cuidados de saúde primários aumentaram as necessidades em +11,2%, enquanto os hospitais públicos diminuíram -11,7% e os privados decresceram -15,6%.
Salienta-se ainda o crescimento mais acentuado do peso das prescrições nas instituições Públicas face às Privadas nos distritos de Porto, Lisboa e Região Autónoma da Madeira, com respetivamente +9,2%, +11,8% e +12,4% em abril de 2020 em comparação com março do mesmo ano (crescimentos acima dos +8,0% registados a nível nacional).
No estudo, a Health Market Research estima que estas alterações do padrão de prescrição com uma tendência de deslocalização da prescrição dos Hospitais Públicos e das Instituições Privadas e o reforço do papel dos Cuidados de Saúde Primários continue enquanto as restrições decorrentes da pandemia se mantiverem.
O Estudo informa ainda que no período entre a semana 6 e a semana 18 (de 3 de fevereiro a 3 de maio) tomando em conta a análise de dados transacionais verifica-se um aumento do nº de unidades prescritas e dispensadas por fatura. Estes valores médios crescentes são acompanhados por uma variação no aumento do número de transações nas farmácias proveniente de um aumento na procura. Especialmente na semana 11 (9 de março a 15 de março) que indica uma possível antecipação do abastecimento de medicamentos por parte dos utentes, face à tomada de medidas que ocorreu no final da semana 12 (Estado de Emergência comunicado a quarta 18 de março e implementado a domingo 22 de março).
A semana 11 apresenta cerca de 3 milhões de faturas, um valor superior em 51% à média semanal das anteriores 5 semanas (2 milhões de faturas).
Na semana 12 verificou-se um aumento das unidades prescritas e dispensadas por fatura, mas uma diminuição do nº de faturas emitidas, reflexo do confinamento nesta semana. Desde a referida semana registou-se uma ligeira tendência para diminuição do rácio, ainda assim, superior aos valores médios no período pré COVID19. Ao nível das faturas emitidas registou-se um valor médio semanal inferior ao período pré COVID19.
Da análise dos dados obtidos, conclui-se que houve uma menor afluência às farmácias pelos doentes para abastecimento e que o número de unidades dispensadas por venda aumentou concomitantemente.
PR/HN
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