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Estar próximo das pessoas, na comunidade – a linha da frente do SNS
Os médicos de família estão na linha da frente do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na prestação de cuidados, quer às pessoas em situação de doença (independentemente do tipo de doença), quer na proteção e promoção da saúde das pessoas e das famílias, na sua comunidade.
Proximidade, personalização e continuidade são características essenciais do papel do médico de família e das equipas de saúde da família. Estas são hoje a base, com uma abrangência quase universal, dos cuidados de saúde primários (CSP) em Portugal. A pouco e pouco, os indicadores de resultados de saúde começam a dar sinais do impacto dos CSP na saúde da população. Veja-se, por exemplo, o relatório da OCDE de 2019, com dados de 2017, que evidenciou Portugal numa posição de destaque – primeiro lugar pela taxa mais baixa de hospitalizações evitáveis – o que aponta para a existência de cuidados de saúde primários fortes.
Agora, em 2020, em plena pandemia, os médicos de família protagonizaram uma capacidade de encontrar a nível local outras formas de organização das unidades, de cooperação entre unidades e equipas e de prestação continuada de cuidados, agora com grande expressão do acompanhamento e contactos à distância. Deste modo, tem sido possível garantir a vigilância, acompanhamento e tratamento de todas as outras doenças não COVID, que são mais de 90% de todas as doenças. Destaca-se, em especial, o acompanhamento proativo do estado de saúde e de eventuais necessidades de apoio psicológico e/ou social dos mais idosos, com morbilidade múltipla e situações de dependência.
A situação presente é particularmente ilustrativa do papel do médico de família, em contexto de equipa multiprofissional, no apoio, acompanhamento e controlo de uma situação tão ameaçadora.
Portugal, tal como alguns outros países, tem conseguido manter mais de 90% das pessoas infetadas nos seus domicílios, na sua maior parte acompanhados pela sua equipa profissional próxima de CSP. Aparentemente, nos países onde o papel dos CSP foi menos marcado ou inexistente, o caos hospitalar e a mortalidade atribuída à Covid-19 parecem ter sido bem mais graves. A existência de uma robusta rede de CSP, tem permitido assegurar em Portugal e noutros países que o recurso aos hospitais é feito apenas em caso de efetiva necessidade. Este afastamento parece ser altamente benéfico para todas as partes. Claro que há diversos fatores em jogo, a pandemia continua o seu curso e serão necessários estudos comparativos bem delineados para se compreender melhor as diferenças entre países. Ainda é cedo para retirar conclusões, mas há já indícios de que a intervenção dos CSP terá contribuído decisivamente para atenuar alguns dos danos da epidemia.
Manter as pessoas afastadas dos ambientes hospitalares contribuiu certamente para reduzir níveis e intensidade de contágios, evitar pressões descontroladas sobre os hospitais, que continuam “desafogados”, reduzir a ansiedade social e individual, dos infetados e das suas famílias, aumentar a segurança dos cidadãos e dos profissionais, e fortalecer a confiança dos cidadãos no seu SNS.
Por outro lado, muito provavelmente, iremos poder retirar muitos ensinamentos e aprendizagens de todo este período e experiências. Esperemos que, no “pós-COVID”, seja possível consolidar ou reinventar vários aspetos da prática profissional do Médico de Família, otimizando recursos e cuidados, simplificando procedimentos e eliminando redundâncias, práticas e atos desnecessários – e, ao mesmo tempo, retirar o máximo benefício da transformação digital dos nossos dias.
Muitos parabéns a todos os Médicos de Família do Mundo.
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