Rosa Gallego Médica de Família

O médico deve por vezes curar, muitas vezes aliviar e sempre consolar

05/19/2020

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O médico deve por vezes curar, muitas vezes aliviar e sempre consolar

19/05/2020 | Covid 19, Opinião

No 10 aniversário do dia mundial do Médico de Família, promovido pela WONKA em todo o mundo, coube-nos uma pequena reflexão sobre a Medicina Familiar.

Especialidade médica em Portugal desde 1981 assenta no modelo biopsicossocial que inclui os dados da pessoa, o seu passado, a sua estrutura familiar e o contexto da comunidade e entende que a interação médica pode, por si só, ser terapêutica. Esta abordagem remonta aos princípios da medicina por Hipócrates cuja escola médica assentava nos princípios de que “não existem doenças, mas doentes” e de que” o médico deve por vezes curar, muitas vezes aliviar e sempre consolar”.

Até ao séc. XX a medicina na Europa e América era sobretudo generalista tendo-se iniciado no seu início a emersão das especialidades, que se foram afirmando através do treino específico, promovendo e, promovidas também, pelo desenvolvimento da tecnologia. Neste percurso aqueles que não eram especificamente treinados foram denominados de generalistas e a proporção de especialistas foi aumentando invertendo a sua relação e tipo de abordagem, centrando-a na doença.

Nesta época a influencia das medicinas social, humanista e comunitária e médicos, como W. Osler e McWhinney, começaram a chamar a atenção para a necessidade da translação dos conhecimentos para a cabeceira dos doentes e comunidade. A análise e reflexão sobre a atuação dos médicos generalistas e sobre vários modelos de cuidados, em diferentes países do mundo, demonstrou o isolamento, a atuação desfragmentada, assim como o desprestígio que sofriam e a baixa preparação que as escolas médicas forneciam para o tratamento complexo das situações na comunidade.

Nos anos 40 do séc. XX formaram-se as primeiras associações medicas com o intuito de promover a organização profissional e promover a formação destes médicos, mas é na segunda metade deste século, finais dos anos 60, que nasce a Medicina Familiar como disciplina clínica com conhecimentos próprios e a partir dos anos 70 começará a desenvolver-se e afirmar-se nos países europeus, na América e progressivamente em todo o mundo. Numerosas organizações se formaram, entre elas a WONKA (1970) que continuam a promover o seu desenvolvimento e garantindo a promoção da qualidade e especificidade científicas.

No fim do seculo XX vários autores demonstraram o impacto positivo na saúde das comunidades servidas pela medicina familiar quer em indicadores de mortalidade quer de morbilidade, garantindo um papel real à especialidade no Sistema de Saúde.

Passados 50 anos e em plena crise mundial causada por uma pandemia, a Medicina Geral e Familiar, termo como a especialidade é denominada em Portugal, é cada vez mais reconhecida como a base médica do Serviço de Saúde, onde o médico de família faz parte dos primeiros na frente da batalha, mantendo-se depois no seguimento e apoio nos cuidados ao doente na comunidade.

O médico de família cuida e trata pessoas inseridas na comunidade e acompanha-as nas várias fases da vida, na sua interação e relação com a família. A especialidade aprende com todas as demais especialidades médicas e faz a translação aplicando saberes científicos e sociais na população que serve, integrando, complementarizando, e garantindo cuidados longitudinais.

A medicina familiar mostrou-se uma disciplina de saber médico, onde a evolução técnica se adapta como facilitadora, mas onde a comunicação com a pessoa é central, permitindo a satisfação do conhecimento e prática clínica. A evolução da medicina familiar contrabalança as demais disciplinas médicas, sendo ao mesmo tempo “anão e gigante” que se ajudam a ver mais longe e onde a pessoa, no todo onde se insere, é pedra basilar.

1 Comment

  1. Portugal_Jobs2022

    Vemos que a preocupa o do autor se concentra em aliviar os sofrimentos do paciente e diminuir a gravidade das doen as. N o foi dada nfase cura, que, na poca de Hip crates, como ele mesmo ensinava, dependia primordialmente das for as da natureza ( A tradu o que mais se aproxima do original franc s a do item 3: Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar sempre. Em alguns artigos veiculados pela imprensa m dica e em v rios textos que se encontram na Internet seus autores atribuem equivocadamente a paternidade desse aforismo a autores de pocas mais recentes, tais como Trudeau, Osler, Holmes, Peabody, Alexis Carrel, Nothnagel, como nos exemplos que se seguem. Dentre todos, Trudeau o mais citado.

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