A investigação – liderada pela antropóloga social Paloma Gay y Blasco, da Escola de Estudos Filosóficos, Antropológicos e Cinematográficos, e María Félix Rodríguez Camacho, aluna de doutoramento em Ciências da Saúde na Universidade de Alicante e responsável da área de Saúde da Federação Autonómica de Associações Ciganas da Comunidade Valenciana (FAGA) – alerta que a comunidade cigana, uma das minorias mais marginalizadas e pobres da Europa, com a saúde mais precária e a menor expetativa de vida, é provavelmente a que sofre o impacto do coronavírus de forma extrema.
A comunidade cigana de Espanha, assim como de outras partes da Europa, entrou na pandemia numa posição excecionalmente desvantajosa. Segundo este estudo, “mais de 80% destas pessoas vivem na pobreza e quase 50% têm uma renda mensal inferior a 310 euros. Esta comunidade também regista níveis mais altos de DPOC, obesidade e diabetes, e é mais provável que tenha sérios problemas de saúde que podem repercutir-se na sobrevivência à Covid-19”.
As condições deficientes da habitação nos centros urbanos ou em bairros marginais, a segregação em guetos construídos especialmente para eles, bem como a aglomeração, afetam a comunidade cigana de uma forma desproporcionada.
“Mais de 60% dos ciganos vivem no seio de famílias multigeracionais, com dois ou mais núcleos de famílias relacionadas que vivem juntas em pequenos apartamentos”, assinalam as autoras da investigação. “Estas condições fazem com que seja extremamente difícil evitar o contágio através do auto-isolamento”.
Além disso, acrescentam, quase 44% dos homens e 27% das mulheres de raça cigana obtêm os seus rendimentos através da venda ambulante, em mercados ao ar livre ou na rua. A quarentena obrigatória torna impossível às famílias ganharem a vida. Além disso, a maioria tem pouco acesso à limitada ajuda económica que o governo espanhol proporciona aos “trabalhadores independentes”.
A conjugação de todos estes fatores coloca grandes setores da comunidade cigana numa situação de grande vulnerabilidade. Segundo um comunicado da Fundação Secretariado Cigano, datado de 24 de março passado, aproximadamente 47.000 pessoas precisam de ajuda para adquirir alimentos básicos para sobreviver. Os dados qualitativos reunidos por Paloma Gay y Blasco e Maria Félix Rodríguez Camacho também revelam as condições desesperadas de muitas famílias ciganas.
As especialistas destacam o estereótipo negativo da comunidade cigana em alguns setores dos media. “São caracterizados como indivíduos desagregados na sociedade espanhola, apresentando-os injustamente como menos dispostos a aderir às políticas governamentais e ao confinamento obrigatório imposto para combater a pandemia”.
Organizações Não Governamentais (ONG) e algumas agências governamentais mobilizaram-se para oferecer ajuda. No entanto, as autoras do estudo alertam que, sem uma ação imediata, decisiva e inclusiva das instituições do Estado, locais e nacionais, essas iniciativas serão insuficientes. “É necessário adotar medidas para não continuar a considerar o sofrimento de tantas famílias ciganas como uma “desgraça aceite” mas como um fracasso intolerável”, afirmam.
0 Comments