A Indústria Farmacêutica tem vindo a desempenhar um papel essencial no contexto de pandemia em que vivemos. Tem garantido a fluidez do circuito do medicamento; a aquisição de tecnologias de saúde essenciais por parte das entidades do SNS e investido na investigação e desenvolvimento de novos medicamentos, para suprir necessidade objetivas na área clínica. O percurso tem sido duro, com a urgência muitas vezes a ser relegada para segundo plano de modo a cumprir as normas de segurança estabelecidas pelas autoridades de saúde. A indústria Farmacêutica, será, certamente, a “Luz ao Fundo do Túnel” que todos ansiamos ver. Seja através da disponibilização de uma vacina eficaz, seja através de fármacos eficazes para combater o vírus. Em entrevista ao HealthNews, João Almeida Lopes, Presidente a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA), oferece-nos um imagem destes tempos difíceis e como o setor que dirige os está a saber superar.
De uma forma ou outra, a atual pandemia parece ter afetado todas as áreas da economia. De que forma afetou o setor farmacêutico?
Ninguém pode ignorar os impactos que esta pandemia provocou na sociedade. No caso da indústria farmacêutica preferimos relevar o facto de termos sido um dos elementos essenciais para combater esta crise. Uma das prioridades foi garantir que os medicamentos, as vacinas e os meios de diagnóstico in vitro continuavam a chegar e a ser disponibilizados aos portugueses, procurando ao mesmo tempo sensibilizar para a aquisição racional das tecnologias de saúde. No contexto desta pandemia, as empresas de base industrial em Portugal tiveram um papel essencial a assegurar o fabrico e o fornecimento dos medicamentos e dispositivos médicos in vitro, contributo essencial para a Saúde em Portugal.
Neste momento importa iniciar o caminho de normalização. A redução das medidas de confinamento, em linha com as recomendações da Comissão Europeia, permite retomar alguma normalidade e iniciar a fase de recuperação, tendo presente a adequação de medidas preventivas que reduzam os riscos para a Saúde Pública e que permitam continuar a conter a propagação da doença COVID-19.
O que foi necessário “ajustar”?
A Indústria Farmacêutica assumiu, desde a primeira hora, a responsabilidade de responder à situação de emergência que o mundo atravessa. O nosso contributo começou mesmo antes de entrarmos na fase de recuperação pós-pandemia quando ativámos os planos de contingência necessários para ultrapassar com êxito o choque inicial provocado pela paralisação das unidades produtivas, garantindo o funcionamento do circuito do medicamento e o abastecimento regular às populações.
Tivemos sucesso porque somos uma das áreas económicas mais reguladas e preparadas. Temos uma visão de longo prazo e baseada em vários cenários. Temos planos de contingência robustos que, mesmo em situações críticas, permitem superar os problemas que possam surgir. Desta forma, podemos assegurar que os medicamentos e os dispositivos médicos para diagnóstico in vitro continuaram a chegar a todos os que deles necessitam. Por outro lado, a nível global, demos prioridade imediata ao investimento em Investigação & Desenvolvimento dedicado ao coronavírus SARS-CoV-2.
O teletrabalho no setor veio para ficar?
Os cidadãos podem contar com o esforço nacional de todas as empresas: sejam os colaboradores em teletrabalho, sejam todos os colaboradores que nas fábricas asseguram a produção, a distribuição, a logística e a dispensa de produtos de saúde nas farmácias.
O paradigma de proximidade entre a farmácia e os utentes alterou-se com o confinamento. Terá impacto no futuro? De que forma?
Os medicamentos e os meios de diagnóstico nunca deixaram de estar acessíveis aos que deles precisavam, apesar dos cuidados acrescidos que se exigiam face aos riscos de transmissão pelo coronavírus SARS-CoV-2.
Agora, como referimos, é tempo de caminhar para a normalização e iniciar a fase de recuperação e revitalização económica. Esta é uma realidade e a necessidade que se aplica, naturalmente, à larga maioria do tecido empresarial e económico, onde se inclui o circuito do medicamento.
Da pandemia ficam ensinamentos que poderemos utilizar no futuro.
A experiência permite-nos antecipar o futuro e preparar novos desafios. A retoma é uma oportunidade para redirecionar o nosso futuro colectivo e reequacionar que investimentos queremos para o país. No contexto de pós-pandemia, podemos criar condições para revitalizar a Economia apostando em sectores que, como a Saúde, proporcionam empregos de qualidade e altamente qualificados, contribuem para a economia do país e permitem manter e equilibrar o bem-estar social de Portugal.
Quais os mais importantes que reteve.
Sentimos que, com esta crise, a Indústria Farmacêutica passou a ser olhada, definitivamente, como uma parte da solução. Somos um parceiro para ajudar Portugal na retoma económica, melhorar o emprego, reequilibrar as componentes social e económica. E a Saúde, onde se incluem as Empresas Farmacêuticas, serão fundamentais neste processo. Se, no pós-pandemia, alguém insistir em ver a Saúde e os seus operadores económicos como um problema é porque está a fazer um diagnóstico errado da situação.
Permitam-nos também destacar o altruísmo das empresas farmacêuticas associadas da APIFARMA. Associaram-se, proactivamente e desde a primeira hora, ao esforço de responsabilidade social sinalizado pela sociedade. À data, a APIFARMA e as empresas farmacêuticas suas associadas doaram mais de 3,2 milhões de euros. Estes donativos destinaram-se a entidades do Serviço Nacional de Saúde, IPSS; forças de segurança, de socorro e de protecção civil, autarquias, instituições de ensino, prestadores de saúde particulares, organizações não governamentais, associações de doentes, entre outras. Por exemplo, permitiram apoiar o Fundo de Apoio Financeiro “Todos Por Quem Cuida” – iniciativa criada em conjunto com a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Farmacêuticos – com 1,1 milhões de euros, para aquisição de equipamento hospitalar, equipamento de protecção individual e outro material necessário a todos os profissionais que combatem a COVID-19. Apoiámos também a Associação para o Desenvolvimento do Ensino e Investigação em Microbiologia (ADEIM) da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa com 40 mil euros para aquisição de material de diagnóstico, possibilitando a realização de 3.000 análises e ensaios de diagnóstico do vírus SARS-CoV-2. Contribuímos também com uma verba de 500 mil euros para a Resposta Global à COVID-19, uma iniciativa da Comissão Europeia e do Governo português, para acelerar o desenvolvimento, a produção e o acesso a vacinas, diagnósticos e tratamentos para a COVID-19. Os donativos em espécie já superam um valor de 566 mil euros, onde se incluem vídeolaringoscópios, oxímetros, monitores, máscaras FFP2, batas de protecção, máscaras cirúrgicas, luvas, antissépticos, entre outros.
A par, apoiámos projetos especificamente criados para permitir a entrega de medicamentos, habitualmente de dispensa hospitalar, em casa de doentes. Para isso associámo-nos ao Projeto “Operação Luz Verde”, uma resposta articulada entre profissionais da saúde e os agentes do sector do medicamento, com o apoio da Ordem dos Farmacêuticos e da Ordem dos Médicos, e doámos 30 mil euros à Associação Dignitude para o “Fundo de Emergência abem COVID-19”.
A dita “luz ao fundo do túnel” será, certamente, “ligada” pela Indústria Farmacêutica, através do desenvolvimento e uma vacina ou de um medicamento eficazes. O que de mais importante está a acontecer nesta área?
No início desta pandemia a nossa prioridade foi assegurar que os medicamentos e os dispositivos médicos para diagnóstico in vitro continuam a chegar a todos os doentes que deles necessitam. A Indústria Farmacêutica atribuiu, também, prioridade ao investimento na investigação & Desenvolvimento de Vacinas, Medicamentos e Meios de Diagnósticos que permitam conter e combater a COVID-19. Existem hoje quase 100 vacinas candidatas e mais 200 medicamentos em investigação. E estão em curso mais de 800 ensaios clínicos para responder, com eficácia e segurança, a esta pandemia.
Mas o nosso papel não se resumirá à área sanitária. Estamos a trabalhar para que os decisores percebam que a área da Saúde e o sector farmacêutico em particular podem ser uma chave para a reativação em pleno da nossa economia ao contribuir para a criação de emprego altamente qualificado, recebendo investimento externo e aumentando os projectos de Investigação & Desenvolvimento realizados em Portugal. Todos os países ambicionam receber investimento da Indústria Farmacêutica e para isso é necessário criar um ambiente favorável que permita convencer os centros de decisão das multinacionais que operam nas áreas da biomedicina e biofarmacêutica.
Atendendo aos “tempos” de I&D, condicionados com fatores de segurança necessariamente exigidos, para quando perspetiva a disponibilização de uma vacina?
A Indústria Farmacêutica está a trabalhar, com empenho e em estreita colaboração, com a comunidade científica e com os prestadores de cuidados, tirando partido de todo o conhecimento existente e de todos os recursos disponíveis. As empresas mobilizaram investigadores, partilharam conhecimento, colaboraram com as autoridades e organizações públicas de investigação. Tudo para acelerar o desenvolvimento de soluções. Logo que se alcançar uma vacina ou medicamento de qualidade, segurança e eficácia comprovadas, será dada total prioridade à sua disponibilização junto da população, em condições de equidade. Esta é parte da nossa missão.
As empresas tecnológicas portuguesas têm protagonizado algumas importantes respostas à pandemia. Reinventaram-se, como é uso dizer. Isso aconteceu, também, com o setor farmacêutico?
No essencial, a Indústria Farmacêutica não se afastará da sua missão primordial: fomentar a inovação e o desenvolvimento de vacinas, terapêuticas e meios de diagnóstico que respondam às necessidades de tratamento e prevenção de novas patologias, ao mesmo tempo que disponibilizamos soluções que constituam uma melhoria para a saúde e qualidade de vida de todos os cidadãos, contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico e social de todos.
No entanto, temos consciência que a pandemia provocada pela COVID-19 alterará, para sempre, a forma como priorizamos a Saúde. Hoje todos concordamos que a Saúde é o bem mais precioso que a sociedade tem. Portanto, existe a oportunidade de trabalhar no relançamento de uma nova economia para Portugal, assente no conhecimento, na inovação, na biomedicina, nas ciências da vida e na investigação. Uma aposta nesta área cria condições para o país crescer de forma sólida e estruturada, com impactos consistentes e significativos ao nível do emprego, das exportações e do investimento.
Uma nota final….
Primeiro uma palavra de confiança. A Indústria Farmacêutica está empenhada na Investigação & Desenvolvimento dedicado ao coronavírus SARS-CoV-2 e em assegurar que os medicamentos e os dispositivos médicos para diagnóstico in vitro continuam a chegar a todos os doentes que deles necessitam.
A nota final… temos a consciência de que o Sistemas de Saúde e os seus profissionais estão neste momento, primordialmente, mobilizados para enfrentar esta pandemia. No entanto, os demais cuidados de saúde têm de continuar a ser garantidos, sendo um dos pilares do nosso Sistema o acesso à inovação, em condições de equidade social e territorial.
Neste contexto, gostaríamos de reafirmar o compromisso que a Indústria Farmacêutica, em todo o mundo, tem com as pessoas: contribuir para mais e melhor vida. Estamos a regressar à normalidade e, em breve, voltaremos todos à nossa actividade, esclarecendo profissionais de saúde, promovendo e fazendo ensaios clínicos, investigando e disponibilizando medicamentos, vacinas e meios de diagnóstico, garantindo sempre o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde de que necessitam.
MMM
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