Glucocorticoides são perigosos no tratamento de infeções respiratórias

1 de Junho 2020

Uma análise minuciosa mostrou que a maioria dos pacientes que participou no estudo recebeu glucocorticoides para além dos interferões beta, o que se provou ser demasiado perigoso.

Os Glucocorticoides são amplamente utilizados no tratamento da síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) apesar da falta de provas científicas indiscutíveis sobre a sua eficácia. A principal razão parece ser a falta de um tratamento eficaz para os pacientes com SDRA que necessitem de ventiladores. A mortalidade para estas pessoas é de 30 a 40%, dependendo da informação disponível.

A SDRA é causado na maioria das vezes por uma séria infeção bacteriana ou viral. Interferões de tipo I, alfa e beta, marcam as proteínas produzidas pelo corpo humano e são necessários no combate do corpo às infeções virais. Por isto mesmo, interferões têm sido utilizados na fase inicial de um teste clínico para o tratamento da SDRA, e com sucesso. Ainda assim, na fase mais tardia agora analisada no estudo INTEREST, o efeito deixou de se verificar. O teste foi conduzido num âmbito internacional englobando 300 pacientes de diferentes centros médicos.

Uma análise minuciosa mostrou que a maioria dos pacientes que participou no estudo recebeu glucocorticoides para além dos interferões beta, o que se provou ser demasiado perigoso. A taxa de mortalidade dos pacientes tratados apenas com interferões foi de 10,6%. Já quando combinado com glucocorticoides a taxa disparou para os 39.7%.

Glucocorticoides inibem a sinalização por parte dos Interferões e aumentam a mortalidade

No laboratório de investigaçção da MediCity, da Universidade de Turku, na Finlândia, os grupos de investigação dos académicos Professor Sirpa Jalkanen e Maija Hollmén investigaram as causas desta subida abrupta de mortalidade.
Os investigadores demonstraram com culturas de células e tecidos que os glucocorticoides inibem a capacidade de sinalização dos interferões e previnem tanto os interferões próprios ao corpo como os administrados para combater a doença.
“Esta é talvez a informação mais importante para salvar vidas humanas que alguma vez fiz na minha carreira. Depois de ultrapassarmos a imensa deceção causada pelos resultados do teste INTEREST estávamos certos de que teria de haver uma explicação – agora encontrámo-la”, explica o professor Sirpa Jalkanen.
As conclusões são extremamente importantes durante a pandemia atual, em que a COVID-19 incapacita o corpo de produzir interferões. Tal levou já a Organização Mundial de Saúde a proibir a administração de glucocorticoides no tratamento da mesma.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

Fonte: Aqui

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