Compreensão dos movimentos do RNA pode ser usada no tratamento do cancro

2 de Junho 2020

A descoberta pode ter implicações clínicas importantes, pois abre a porta a novas estratégias para o tratamento de diferentes tipos de cancro.

Uma pesquisa do Instituto Karolinska, publicada na Revista “Nature”, mostra que uma molécula de RNA envolvida na prevenção da formação de tumores pode mudar a sua estrutura e, assim, controlar a produção de proteínas na célula.

As moléculas curtas de RNA das nossas células, denominadas microRNA, são importantes reguladores do RNA mensageiro (mRNA) – as moléculas que codificam os blocos de construção do nosso corpo, as proteínas. O mecanismo exato dessa regulação continua a ser desconhecido, mas sabe-se que as microRNA podem silenciar moléculas de mRNA e, assim, impedir a produção de proteínas. Portanto, têm o potencial de serem usadas como ferramentas ou alvos para os medicamentos.

“É importante aumentar a nossa compreensão de como as microRNA regulam a produção de proteínas, porque esse processo é perturbado em diferentes tipos de doenças, incluindo o cancro”, diz Katja Petzold, professora associada do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica do Instituto Karolinska, na Suécia, que liderou o estudo. “Mostramos pela primeira vez que um complexo de microRNA-mRNA tem uma estrutura que muda e que esse movimento afeta o resultado biológico, ou seja, a quantidade de proteína produzida na célula”.

Katja Petzold, professora associada do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica do Instituto Karolinska, na Suécia, que liderou o estudo

Os investigadores estudaram uma microRNA conhecida como miR-34a, que desempenha um papel importante no cancro, regulando indiretamente a atividade da proteína p53, conhecida como “guardiã do genoma” pela sua capacidade de prevenir a formação de cancro. Alterações na função da p53 são muito comuns em carcinomas humanos. A miR-34a regula negativamente o mRNA que codifica a Sirt1, uma proteína que desativa a p53.

Utilizando a Ressonância Magnética Nuclear (RNM) e outros métodos biofísicos, os investigadores resolveram a estrutura e dinâmica do miR-34a que liga a molécula de mRNA. Quando mediram esta dinâmica, descobriram que o complexo existe em dois estados estruturalmente diferentes, um moderadamente activo com uma população de 99 por cento e outro com maior actividade, uma população de 1 por cento. Estes estados podem interconverter-se, pois estão em equilíbrio, e a população de cada estado pode ser modificada por factores externos.

“Depois de descobrir como fazer este “switch”, podemos usá-lo na prática clínica como um medicamento para controlar a produção de proteínas específicas”, explica Katja Petzold.

Os investigadores foram capazes de mostrar que a miR-34a utiliza a mesma estratégia para diminuir a produção de outras proteínas, e não apenas a Sirt1. “Isso é importante porque abre caminho para o desenvolvimento de medicamentos com um mecanismo de ação completamente novo”.

O estudo foi financiado por várias instituições, incluindo o Conselho de Investigação Sueco, a Fundação Sueca de Pesquisa Estratégica, a Fundação Harald e Greta Jeansson, a Fundação Eva e Oscar Ahrén, a Fundação Åke Wiberg, a Sociedade Sueca de Cancro, o Instituto Karolinska e a Fundação Ragnar Söderberg.

NR/HN/Adelaide Oliveira

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