Estudo demonstra importância da genética nas comorbilidades

8 de Junho 2020

O facto de muitas pessoas terem mais de uma doença ao mesmo tempo tornou-se um dos principais desafios por resolver, no atual quadro de envelhecimento da população

Um estudo liderado pelo “Barcelona Supercomputing Center” (BSC), com a participação da Universidade de Valência, conclui que as características específicas de cada doente, como a expressão genética, podem ser um fator decisivo no desenvolvimento de estratégias clínicas destinadas a abordar e controlar possíveis comorbilidades.

Este trabalho, no qual os autores dão um passo em frente ao investigar a simultaneidade de doenças no mesmo indivíduo, foi publicado na “Nature Communications”.

“A nossa abordagem não é apenas capaz de confirmar as comorbilidades conhecidas, mas também de fornecer pistas concretas sobre os processos biológicos envolvidos, um primeiro passo para a gestão e prevenção das comorbilidades”, explica Jon Sánchez, autor principal do artigo e investigador da Grupo de Biologia Computacional do Departamento de Ciências da Vida do BSC.

O facto de muitas pessoas terem mais de uma doença ao mesmo tempo tornou-se um dos principais desafios por resolver, no atual quadro de envelhecimento da população. Este problema afeta principalmente os idosos, diminui as opções de tratamento e a expectativa de vida dos pacientes, além de aumentar os custos da assistência médica.

As relações de comorbilidade foram descritas principalmente em estudos epidemiológicos. Nestes, o número de pessoas que registam duas ou mais doenças simultaneamente, é registado e comparado com a restante população.

Estes estudos proporcionam uma visão geral sobre a maior ou menor probabilidade de desenvolver doenças secundárias, associadas a uma doença anterior. Um exemplo bem conhecido é, por exemplo, o risco quatro vezes maior de insuficiência cardíaca em doentes com hipertensão. Por outro lado, tem sido amplamente descrita a probabilidade inferior à média de um doente com Alzheimer desenvolver cancro do pulmão.

“Embora se tenha observado que, ao nível da população, os pacientes com Alzheimer têm menor probabilidade de desenvolverem cancro do pulmão, isso não significa que as pessoas com Alzheimer não possam ter essa doença. No nosso estudo, observamos uma alta variabilidade na expressão genética dos doentes de Alzheimer, o que sugere que algum grupo específico destes pacientes pode, de facto, ter uma tendência oposta e um risco maior de desenvolver cancro do pulmão”, refere Jon Sánchez.

Este trabalho é um primeiro passo para o estudo das comorbilidades de uma forma personalizada. Propõe uma mudança de paradigma da abordagem centrada na doença para uma abordagem centrada no paciente.

O estudo é o resultado de um esforço de colaboração entre cientistas do “Barcelona Supercomputing Center” (BSC), Centro Nacional de Investigação do Cancro (CNIO), Instituto de Biologia Evolutiva (IBE), Universidade de Valência, Centro de Investigação Biomédica em Rede de Saúde Mental (CIBERSAM), Universidade de Aix, de Marselha, e “Centre de Recherches em Cancérologie” de Toulouse (CRCT).

NR/HN/Adelaide Oliveira

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