Um estudo realizado pelos Hospitais Universitários de Genebra (HUG), o Centro de Doenças Virais Emergentes e a Universidade de Genebra (UNIGE), num universo de 2.766 pessoas, revela que no momento do declínio da pandemia de Covid-19, apenas 10,8% da população tinha sido infetada. Além disso, em comparação com adultos de 20 a 50 anos de idade, as crianças de 5 a 9 anos têm três vezes menos probabilidades de serem infetadas. As pessoas com mais de 65 anos têm duas vezes mais probabilidades. Estes resultados foram publicados na revista “The Lancet”.
Durante as cinco semanas do estudo – realizado entre 6 de abril e 9 de maio – a seroprevalência global aumentou de aproximadamente 5% para 11%. Tendo em conta o tempo necessário para a produção de anticorpos após os sintomas (10,4 dias, em média), os investigadores calcularam cerca de 12 infeções reais na comunidade por cada caso confirmado. Estes resultados sugerem que apenas uma minoria da população de Genebra foi infetada durante esta onda pandémica, apesar da elevada taxa de casos de Covid-19 identificados durante a fase de infeção aguda (1% da população em menos de dois meses).
As crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos, e os idosos, apresentam uma seroprevalência significativamente menor. De facto, apenas uma criança em 123 apresentou resultados positivos. No entanto, são necessários mais estudos para compreender melhor a dinâmica da infeção e dos anticorpos em crianças com menos de 5 anos, para determinar se, além de serem geralmente menos suscetíveis à SARS-CoV-2, também são atingidas com menor gravidade.
O estudo revela igualmente uma elevada concentração de infeções nos próprios domicílios. Apesar da reduzida seroprevalência nas crianças, 17,1% contavam, pelo menos, com um caso positivo em sua casa, o que pode sugerir que as crianças são infetadas pelos adultos.
Em contrapartida, apenas 3% dos participantes com mais de 65 anos tinham um caso positivo em sua casa. Estas estimativas tendem a confirmar a eficácia das medidas de confinamento parcial. É possível, no entanto, que a sua capacidade de produzir anticorpos seja reduzida devido ao enfraquecimento do sistema imunológico.
Os resultados preliminares deste estudo são uma referência importante para avaliar o estado da epidemia. No momento em que a Suíça parece ter chegado ao fim da primeira onda de Covid-19, apenas uma em cada 10 pessoas desenvolveu anticorpos para o SARS CoV-2. Contudo, foi um dos países mais afetados da Europa.
Os resultados deste estudo – o maior sobre seroprevalência de base populacional até ao momento atual – são consistentes com os relatórios preliminares de outras equipas de todo o mundo. Mostram que o declínio da epidemia pode ter ocorrido apesar de grande maioria da população não ter ganho imunidade.
As pesquisas sobre seroprevalência baseadas na deteção de imunoglobulinas específicas do tipo G (IgG), são usadas para medir a proporção da população que já foi exposta ao coronavírus. Em contrapartida, não permitem tirar conclusões sobre a imunidade total ou parcial, nem a sua possível duração.
No entanto, os estudos de seroprevalência são cruciais para calcular a dinâmica da epidemia e preparar a resposta necessária em termos de Saúde Pública. São também mais fiáveis do que os estudos baseados em esfregaços nasofaríngeos e os testes de RT-PCR, que dependem em grande medida das políticas de rastreio e não contemplam as pessoas com sintomas leves ou sem sintomatologia. O estudo de seroprevalência da população em geral continua a ser aperfeiçoado para ter em conta a sintomatologia e os fatores sociodemográficos.
Bibliografia: Seroprevalence of anti-SARS-CoV-2 IgG antibodies in Geneva, Switzerland (SEROCoV-POP): a population-based study, Silvia Stringhini, Ania Wisniak*, Giovanni Piumatti*, Andrew S Azman*, Stephen A Lauer, Hélène Baysson, David De Ridder, Dusan Petrovic, Stephanie Schrempft, Kailing Marcus, Sabine Yerly, Isabelle Arm Vernez, Olivia Keiser, Samia Hurst, Klara M Posfay-Barbe, Didier Trono, Didier Pittet, Laurent Gétaz, François Chappuis, Isabella Eckerle, Nicolas Vuilleumier, Benjamin Meyer, Antoine Flahault, Laurent Kaiser, Idris Guessous, The Lancet, https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31304-0
NR/HN/Adelaide Oliveira
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