COVID-19. Risco mais elevado em populações de minorias étnicas continua por explicar

23 de Junho 2020

Os riscos mais elevados de infeção em populações de etnia negra, asiática e restantes minorias étnicas (designadas por BAME) não têm explicação socioeconómica ou comportamental, nem relacionada com o risco de doenças cardíacas ou de níveis de vitamina D, de acordo com a mais recente investigação liderada pela Universidade Queen Mary, em Londres. As conclusões […]

Os riscos mais elevados de infeção em populações de etnia negra, asiática e restantes minorias étnicas (designadas por BAME) não têm explicação socioeconómica ou comportamental, nem relacionada com o risco de doenças cardíacas ou de níveis de vitamina D, de acordo com a mais recente investigação liderada pela Universidade Queen Mary, em Londres.
As conclusões publicadas no Journal of Public Health sugerem que a relação entre a infeção do COVID-19 e a etnia é complexa, e requer mais pesquisa dedicada para explicar que fatores motivam estes padrões.

São cada vez mais os relatórios que sublinham os riscos mais altos de uma infeção séria por COVID-19 em populações BAME. Contudo, a causa por trás deste padrão étnico assumido pela doença é ainda desconhecido. Variações no risco de contração de doenças cardiovasculares, níveis de vitamina D, e fatores socioeconómicos e comportamentais foram propostos como possíveis explicações. Ainda assim estas hipóteses permanecem por estudar.

Investigadores da Universidade de Queen Mary, em colaboração com a Unidade de Aconselhamento de Pesquisa Médica e Epidemiológica da Universidade de Southampton, recorreram ao extenso Biobank (Banco de Genes do Reino Unido, único no mundo), que conta com dados genéticos de mais de meio milhão de pessoas, para investigar o papel de um leque socioeconómico, biológico, social e de fatores comportamentais na determinação do padrão étnico revelado pelas infeções severas de COVID-19. Os dados analisados incluíram 4.510 participantes do Biobank Britânico que foram testados para o COVID-19 no âmbito hospitalar, 1.326 dos quais acusaram positivo.

Os resultados demonstraram que os indivíduos das etnias negra, asiática ou minoritária; do sexo masculino; com maior índice de massa corporal; com maiores privações materiais; e que vivam em casas sobrelotadas possuem fatores de risco independentes para a contração do COVID-19.

Os maiores fatores de risco para a contração de casos sérios de COVID-19 não foram ainda, contudo, adequadamente explicados por variações no risco de contração de doenças cardiovasculares, níveis de vitamina D, ou fatores comportamentais e socioeconómicos, o que sugere que outros fatores não abrangidos na análise possam elucidar-nos quanto a estas diferenças.

A doutora Zahra Raisi-Estabragh, membro da equipa de Treino em Pesquisa Médica Clínica da Universidade Queen Mary, em Londres, foi a responsável pela análise. Para ela, “existe uma preocupação crescente quanto aos fracos resultados do COVID-19 nas chamadas populações BAME. A compreensão de potenciais condutores desta relação é uma necessidade urgente para informar os serviços de pesquisa e saúde pública. Este trabalho cobre algumas questões no que diz respeito a algumas destas questões pertinentes”.

Steffen Patersen, professor de Medicina Cardiovascular da Universidade de Queen Mary, que supervisionou os trabalhos acrescenta que “os resultados desta análise sugerem que os fatores que estão por trás destas diferenças étnicas no caso do COVID-19 não podem ser facilmente reconhecidos. Em adição à avaliação do papel das considerações biológicas, como a genética, abordagens que avaliem mais compreensivamente as complexas diferenças económicas e socio comportamentais devem ser uma prioridade”.

Nicholas Harvey, professor de Reumatologia e Epidemiologia Clínica na Unidade de Pesquisa Médica ao Longo da Vida da Universidade de Southapton, foi um colaborador chave na investigação. “A caraterização detalhada dos participantes no Biobank Britânico e a associação rápida destes dados aos resultados dos testes de COVID-19 do Sistema Nacional de Saúde Inglês, permitiram a consideração da importância de um largo leque de exposições”.

O trabalho foi ainda apoiado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Médica (NIHR) através do Centro para a Pesquisa Biomédica de Barts, do Centro de Pesquisa Biomédica de Southampton e do Centro de Pesquisa Biomédica de Oxford.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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