Brexit

9 de Julho 2020

Se há coisa que não falta cá no sítio é uma irritante subserviência mascarada de pseudoamizade, periclitantemente mantida entre Portugal e a Inglaterra.

Chovem perdigotos, com os maiores encómios ao Tratado de Windsor, velhinho de mais de 600 anos, o mais idoso a nível mundial. 

Como frequentemente acontece – ou porque não nos informamos ou por não nos terem ensinado na escola – por diversas vezes Portugal teve razões para queimar o geronte documento. Logo quando sob domínio de Espanha e a pretexto de também existir à época um tratado com os Habsburgo, que governavam os nossos vizinhos e também a nós, decidiram suspender o pacto e, como se dessa decisão unilateral resultasse inevitável, atacaram e saquearam, ao largo dos Açores, a Nau Santa Maria, o maior navio do mundo de então, naquele que constituiu um dos mais lucrativos assaltos da história. Mais tarde, na sua ganância colonial, não hesitaram em rasgar o tratado respondendo com um ultimato a Portugal quando este, por ocasião da Conferência de Berlim, apresentou um projeto – Mapa Cor-de-Rosa — em que reivindicava o território entre Angola e Moçambique. Ou fazem o que queremos, ou perdem tudo, ameaçaram os hooligans de sua Majestade.

A reação Portuguesa, pelo menos a civil, levaria ao desenvolvimento de um sentimento anti-monárquico que culminaria com a chacina das cabeças reais na Praça do Comércio. Rei e príncipe herdeiro pagariam com a vida a leveza com que tratavam a canalha inglesa.

Deixo-vos um exemplo – que ainda hoje os curricula escolares omitem, de revolta contra esta submissão infame. Por razões de espaço, publico em texto corrido, sem quebras, que se lê também muito bem. A ver se inspira os nossos governantes.

“Senhor, se acaso um rude e enérgico plebeu pode ser um juiz, e um rei tornar-se réu, se acaso o assassinado à noite n’uma esquina pode gritar – traição, – contra quem o assassina, se acaso um rude velho excomungou Paris, e Juvenal cuspiu na imperial meretriz, e a História toda escarra em Judas, o traidor, eu serei o juiz – e vós, o réu, Senhor!
Sim, mancharás na lama, ó rei, os teus brazões, e terás por juiz a Plebe e os corações dos guerreiros fiéis, bruscos, encanecidos, que chorarão de raiva os louros prostituídos, se deres os pendões furados das metralhas, que já viram o fumo e os sóis de cem batalhas, a aura da Liberdade e o sopro das desgraças, a voz das sedições nas ruas e nas praças, se deres os pendões… gloriosos tanta vez… – para os calcar aos pés do marinheiro inglês!

 Gomes Leal in Fim de um Mundo

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