Os Inaladores são preciosos, quando utilizados corretamente

14 de Julho 2020

Dra. Carmo Abreu Assistente hospitalar de Imunoalergologia no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro

Your content goes here. Edit or remove this text inline or in the module Content settings. You can also style every aspect of this content in the module Design settings and even apply custom CSS to this text in the module Advanced settings.

Os Inaladores são preciosos, quando utilizados corretamente

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

14/07/2020 | Alergologia

Os inaladores são dispositivos médicos que acompanham o doente asmático ao longo da sua vida. Toda! São, pois dispositivos que devem ser escolhidos em função da sua maior adaptabilidade aos doentes. Em entrevista ao Healthnews.pt, Carmo Abreu, Assistente hospitalar de Imunoalergologia no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro diz mesmo que o doente pode e deve escolher dentro do que é adequado para ele. “Muitas vezes, sobretudo para as crianças, temos dispositivos mais bonitos”, afirma, para logo prosseguir “Se o doente for capaz de realizar a técnica inalatória e se nós pudermos prescrever o que for mais engraçado para ele, ou porque parece um lego, ou porque é do Benfica ou do Porto e preferem essas cores, nós devemos adequar isso”

 Que tipos de inalador existem?
Disponíveis no mercado temos os nebulizadores, que eram muito utilizados antigamente, os dispositivos de pós seco e os pressurizados. Dependendo das características de cada paciente adaptamos o inalador ao que o doente é capaz. Dando-lhe um exemplo: nas crianças até aos dois anos utilizamos muitas vezes o nebulizador, porque não implica a necessidade de colaboração do doente. Dentro dos nebulizadores existem dois tipos: os pneumáticos e os por partículas vibratórias ou ultrassónicos.

Num idoso, uma das coisas com as quais nos deparamos é que eles muitas vezes não têm capacidade para fazer nenhum dispositivo de pó seco. Os dispositivos pressurizados muitas vezes implicam também uma coordenação muito grande. Nesses pacientes, utilizamos um dispositivo pressurizado, mas acoplado a uma câmara expansora, que é o mais adequado para obtermos uma maior quantidade de fármaco introduzido no pulmão e, ao mesmo tempo, com menos efeitos secundários.

 

Como é que se medem as doses nestes inaladores?
As doses são preconizadas de acordo com a idade e a necessidade do doente, e mede-se em inalações. Muitas vezes não receitamos uma dose específica porque o paciente está numa terapêutica de alívio, e por isso, quando o alívio sintomático do doente é a prioridade, não existe uma dose específica, mas sim um mínimo e um máximo. Mas muitas vezes não se dá uma dose exata: não se diz para tomar 400 microgramas. 

 

E quais são as vantagens dos inaladores pressurizados?
Têm a vantagem de serem muito fáceis de transportar, – cabem num bolso das calças. São bastante antigos e os doentes estão muito habituados a utilizá-los, mas embora pareçam fáceis de utilizar, não o são. Terapeuticamente não têm grandes vantagens, só quando acoplados a uma câmara expansora. Atualmente, utilizar o pressurizado como monoterapia sem acoplamento de câmara expansora é até desaconselhado, porque implica uma boa coordenação ‘mão-pulmão’: à medida que está a fazer a inalação tem que conseguir inalar o fármaco e carregar no botão, o que não é fácil. Mas acaba por ser bom para idosos ou crianças com fraca capacidade inspiratória, em que nós ao acoplarmos a câmara expansora conseguimos que tenham uma ótima acessibilidade de fármaco.

E dos dispositivos de pó seco?
Têm uma vantagem relativamente aos pressurizados, uma vez que a dose está disponível sem que tenham de carregar ou aplicar nenhuma técnica que exija tanta coordenação. A dose é depositada num orifício e, quando o paciente inala já tem a dose disponível. Implica também um tempo respiratório adequado, e por isso requer também alguma capacidade inspiratória, mas, ao mesmo tempo, evita aquela coordenação ‘mão-pulmão’, que os pacientes têm alguma dificuldade em fazer. Depois, também são facilmente transportáveis e são muito semelhantes aos pressurizados. 

Quais são os principais erros na administração do fármaco através destes dispositivos?
Às vezes nós reparamos ao fim de seis meses, ou anos até, que o paciente tem uma técnica incorreta. Ou seja, por causa da maneira errada como fazem a inalação não lhes chega a dose correta de medicamento ao pulmão para que seja absorvido.

Muitas vezes, doentes até com mais idade não apresentam grandes resultados no controlo da asma, mesmo com um inalador e com uma dose recomendada. Chegam mesmo a ir à urgência por alguma crise que não conseguem controlar. Nestes casos, a primeira coisa que devemos fazer é olhar para a técnica. É uma coisa que somos cada vez mais forçados a verificar em consulta

O que é preciso é que as partículas cheguem bem ao fundo dos pulmões, não é que fiquem na garganta, ou na boca. Para chegar aos alvéolos pulmonares é preciso a tal capacidade inalatória. Muitas vezes, mesmo que o paciente seja novo, tem dificuldades em gerir este fluxo de maneira a que o fármaco chegue onde deve, mas isso é treinável. 

A técnica correta implica expirar, colocar o inalador na boca e inspirar bem fundo, e depois aguentar com o ar nos pulmões entre 5 a 10 segundos. 

 

E qual seria a maneira de colmatar estes erros?

O facto estarem a aparecer vários novos dispositivos já nos ajuda nisso. Ou seja, os dispositivos são cada vez mais intuitivos. Depois, nós próprios, profissionais de saúde, devemos em cada consulta verificar se o doente aprendeu e se realmente está a fazer a técnica da forma correta. Quando os pacientes chegam a uma certa idade, ou engordam muito, as coisas deixam de ser as mesmas e eles vão perdendo capacidade inalatória. Existem vários pormenores que ao longo das consultas vamos observando e vamos colmatando. Nunca podemos é assumir à primeira que, só porque os dispositivos são banais toda a gente os sabe utilizar bem. 

 

Portanto, parece que mesmo dentro dos três grandes tipos de inaladores existem inúmeras opções. Existe abertura para que seja o paciente a escolher o seu dispositivo? 

O doente pode e deve escolher dentro do que é adequado para ele. Muitas vezes, sobretudo para as crianças, temos dispositivos mais bonitos. Se o doente for capaz de realizar a técnica inalatória e se nós pudermos prescrever o que for mais engraçado para ele, ou porque parece um lego, ou porque é do Benfica ou do Porto e preferem essas cores, nós devemos adequar isso. Até porque estamos a colocar no doente uma certa responsabilidade ao deixá-lo escolher o dispositivo. Desde que seja adequado, essa escolha é discutida com o doente. 

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights