O efeito desejado é que o medicamento encurte o período da doença e diminua a necessidade de cuidados intensivos. O medicamento em causa é conhecido por afetar uma enzima importante para ambas as doenças.
“O nosso objetivo é que este medicamento reduza a quantidade de vírus que consiga chegar às células pulmonares ao prevenir o processo subjacente à enzima”, diz Andreas Josefsson, Professor Assistente e diretor do estudo. É líder de grupo no Centro para a Medicina Molecular Wallenberg na Universidade de Umea, e médico consultor na área de urologia na região de Västerbotten (Suécia) e no Hospital Universitário de Gotemburgo.
O risco de estado agravado no COVID-19 tem sido até agora visivelmente superior para homens em relação às mulheres. Isto sugere que o sistema afetado pela doença pode ser importante para o tratamento das infeções causadas também pelo coronavírus. O medicamento Enzalutamide bloqueia sinais da hormona sexual masculina, a testosterona, que por sua vez afeta a enzima TMPRSS2, entre outras. Esta é a mesma enzima que o vírus SARS-CoV-2 precisa para chegar às células e danificar os pulmões.
Os dados de Itália mostram que entre homens tratados com medicamentos semelhantes para o seu cancro da próstata, um número consideravelmente menor ficou doente com o COVID-19 quando comparado com grupos de controlo. Pode também ser possível que a testosterona em si acorde a capacidade do sistema imunitário em lidar com as infeções por SARS-CoV-2, e que o medicamento possa dessa forma trazer efeitos positivos.
O ensaio clinico será conduzido com base em voluntários entre pacientes hospitalizados para tratamento do COVID-19, mas que não estejam em estado critico suficiente que necessitem de cuidados intensivos. Os pacientes neste estudo vão ser administrados com o medicamento via oral ao longo de cinco dias, durante os quais serão monitorizados. O resultado do tratamento será então comparado com o de um grupo de controlo.
“Este é um medicamento com que estamos muito familiarizados, mas será agora usado com um novo propósito. Daí que a segurança seja uma parte muito importante deste ensaio clinico”, diz Andreas Josefsson.
Normalmente o medicamente é administrado em tratamentos a longo prazo, mas com este encurtamento do tratamento o risco de efeitos secundários é reduzido. Os seguimentos tomarão lugar nas seis semanas seguintes ao tratamento, e novamente seis meses depois.
O estudo sueco é baseado numa colaboração entre a Universidade de Umea, a Academia Sahlgrenska da Universidade de Gotemburgo, e as clinicas de infeção e urologia do Hospital Universitário de Norrlands em Umea e o Hospital Universitário Sahlgrenska em Gotemburgo. Mais seis regiões médicas suecas manifestaram até agora o seu interesse em participar, e os hospitais de Malmo, Sundsvall e Jönköping estão preparados para começar. O estudo tem uma capacidade de recrutamento de 600 pacientes.
“Também temos colaborações próximas internacionais com nada menos que os Estados Unidos, onde estudos semelhantes estão a ter início, e estamos a partilhar experiencias uns com os outros. O espírito de colaboração é alto de ambos os lados, tanto nos campos de pesquisa globais como no cruzamento disciplinar para encontrar medicamentos contra o COVID-19”, explica Karin Welén, docente na Academia Sahlgrenska em Gotemburgo, que conduz o estudo em conjunto com Andreas Josefsson.
O estudo Covidenza já ultrapassou a revisão ética e foi aprovado pela Agencia de Produtos Médicos Sueca. A região de Västerbotten é a autoridade competente do estudo apoiado pelas regiões médicas envolvidas, o Centro para a Medicina Molecular Wallenberg na Universidade de Umea e a farmacêutica Astellas Pharma. A companhia farmacêutica não está, contudo, envolvida no planeamento do estudo ou no processamento dos resultados.
NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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