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Os Enfermeiros são parte da solução
Um pouco por todo o mundo, temos assistido a declarações por parte de decisores políticos, a elogiar e agradecer o empenho dos trabalhadores da saúde. É um sentimento que ultrapassa as declarações de circunstância, como foi possível observar pela mobilização da sociedade civil, ao produzir e fornecer viseiras aos hospitais, entregar comida ou disponibilizar camas para os profissionais deslocados.
Em países da UE, tem sido discutido e legislado variados tipos de bónus pelo trabalho prestado. Seja na forma de prémio monetário, aumentos salariais ou revisão das carreiras. Em Portugal, tivemos primeiro a oferta da final da Liga dos Campeões, tendo sido posteriormente acrescentado um “prémio”. Escrito numa linguagem hermética e desadequada da realidade, no fim, criará tremendas injustiças e chegará a meia dúzia de profissionais.
Os enfermeiros são a classe profissional mais numerosa do SNS. No espaço duas décadas, evoluímos de uma realidade onde o bacharelato era o grau académico mais comum, para uma situação onde virtualmente todos são licenciados, cerca de um terço são enfermeiros especialistas e começa a ser bastante comum encontrar enfermeiros com grau de mestre a prestar cuidados.
Somos a geração de enfermeiros mais qualificada que alguma vez existiu! Infelizmente, somos também a geração com menos expectativas de progressão e evolução profissional. A grande maioria dos enfermeiros encontra-se na base da carreira, com todo o seu passado apagado para efeitos de progressão. Profissionais com 15 anos de trabalho, com responsabilidades acrescidas nos seus serviços, que integram novos colegas recém-formados chegam ao fim do mês e recebem exatamente o mesmo salário que o recém-chegado da escola. É um absurdo que em nada contribui para reter os bons profissionais.
A reduzida quota fixada para enfermeiros especialistas, caso não seja alterado, significa que só daqui por duas décadas haverá novos concursos. Retirando todos os incentivos à formação e evolução profissional e pessoal da classe. O acesso a categorias de gestão transformou-se num processo bizantino, tendo sido bastante desvalorizada em relação a carreiras anteriores. Parece difícil de acreditar, mas um enfermeiro tinha uma carreira mais justa e digna na década de 90 do século passado, que atualmente. Retrocedemos 30 anos, é urgente reparar esta perda.
Os enfermeiros pedem uma carreira justa e adequada. Que promova a evolução profissional. Com uma avaliação que concorra para esta evolução e não seja um mero procedimento administrativo. Queremos algo de elementar justiça: que todos os enfermeiros a trabalhar para o SNS, logo para o mesmo “patrão”, tenham o mesmo tipo de vínculo. Uma minoria tem um contrato de trabalho em funções públicas, enquanto que uma maioria tem um contrato individual de trabalho. Somos iguais nos deveres, mas desiguais nos direitos.
Não queremos a liga dos campeões, nem um prémio que irá causar discórdia e injustiças. Os enfermeiros sempre serão parte da solução. Se o governo quer recompensar os profissionais de saúde, pode começar por nos respeitar e ouvir o que temos para dizer.
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