Porque é que umas crianças gostam mais de televisão do que outras?

11 de Agosto 2020

O temperamento das crianças pode estar relacionado com a quantidade de tempo que passam a ver televisão, de acordo com novas investigações realizadas pelas universidades de East Anglia (UEA) e Birkbeck, de Londres.

Novas descobertas publicadas recentemente mostram que as respostas do cérebro dos bebés de 10 meses de idade podem fazer prever se vão gostar de ver programas de televisão movimentados, seis meses mais tarde.

A equipa de investigação considera que os resultados são importantes para o atual debate em torno da exposição precoce à televisão.

A investigadora principal, Dra. Teodora Gliga, da Escola de Psicologia da UEA, afirmou: “O ambiente sensorial em torno dos bebés e das crianças pequenas é realmente complexo e desorganizado, mas a capacidade de prestar atenção é um dos primeiros marcos do desenvolvimento dos bebés”.

“Mesmo antes de poderem fazer perguntas, as crianças variam muito na forma como são levadas a explorar o seu ambiente e a envolver-se com novas imagens ou sons. Queríamos descobrir porque é que os bebés parecem ser tão diferentes na forma como procuram novos estímulos sensoriais visuais – tais como serem atraídos por objetos brilhantes, cores brilhantes ou imagens em movimento na televisão”.

“Houve várias teorias para explicar estas diferenças. Algumas sugerem que os bebés menos sensíveis procuram menos estímulos, outras sugerem que alguns bebés são simplesmente mais rápidos a processar a informação, uma capacidade que os poderia levar a procurar novos estímulos com mais frequência. Este estudo apoia uma terceira teoria, que mostra que a preferência pela novidade faz com que alguns bebés procurem estímulos mais variados”.

Usando um método de imagem do cérebro conhecido como electroencefalografia (EEG), a equipa de investigação estudou a atividade cerebral em 48 bebés de 10 meses de idade enquanto assistiam, repetidamente, a um videoclip de 40 segundos do filme “Fantasia” da Disney.

Estudaram como as ondas cerebrais das crianças reagiram às interrupções aleatórias do filme na forma de um tabuleiro de xadrez preto e branco a piscar repentinamente no ecrã.

“Enquanto os bebés assistiam ao videoclip repetido, as respostas do EEG diziam-nos que tinham aprendido o seu conteúdo. Esperávamos que, à medida que o vídeo se tornasse mais familiar e, por conseguinte, chamasse menos a sua atenção, eles começassem a notar o tabuleiro de xadrez”, explicou a Dra. Teodora Gliga. “Mas alguns dos bebés começaram a responder ao tabuleiro de xadrez mais cedo, enquanto ainda aprendiam sobre o vídeo, sugerindo que estas crianças já tinham tido suficiente informação anterior”.

“Outros, pelo contrário, continuavam envolvidos no vídeo, mesmo quando não havia muito mais a aprender com ele”, acrescentou.

Os pais e encarregados de educação foram também convidados a preencher um questionário sobre os comportamentos sensoriais dos seus bebés, incluindo se gostavam de ver programas de televisão com um ritmo acelerado e de cores vivas. Seguiu-se um segundo questionário semelhante seis meses mais tarde.

“Foi muito interessante descobrir que as respostas do cérebro aos 10 meses indicam a rapidez com que os bebés mudaram a sua atenção do vídeo repetido para o quadro de controlo, prevendo se gostariam de ver programas de televisão movimentados seis meses depois”, referiu a especialista.

“Estas descobertas são importantes para o debate em curso sobre a exposição precoce à TV, uma vez que sugerem que o temperamento das crianças pode determinar essas difernças na exposição à televisão”.

“É improvável que as nossas descobertas sejam explicadas pela exposição precoce à TV, uma vez que os pais relataram que apenas uma pequena proporção de crianças de 10 meses de idade assistia a programas de televisão”, acrescentou.

Elena Serena Piccardi, de Birkbeck (Universidade de Londres), referiu: “O próximo passo da nossa investigação terá como objetivo compreender exatamente o que conduz a estas diferenças individuais em termos de atenção à novidade, incluindo o papel que os primeiros ambientes podem desempenhar”.

“A exploração e a descoberta são essenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo das crianças. No entanto, crianças diferentes podem beneficiar de ambientes diferentes para a sua aprendizagem. Como tal, esta investigação ajudar-nos-á a compreender como os ambientes individualizados podem promover a aprendizagem das crianças, o seu desenvolvimento cognitivo, e apoiar a realização de todo o seu potencial”.

Esta investigação foi conduzida pela UEA em colaboração com Birkbeck, da Universidade de Londres, e a Universidade de Cambridge. Foi financiada pelo Conselho de Investigação Médica.

O artigo ‘Individual differences in infant visual sensory seeking’ foi publicado em agosto na revista “Infancy”.

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NR/HN/Adelaide Nobre oliveira

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