Cidadãos que colecionam mosquitos podem ser a chave na luta contra a malaria

6 de Setembro 2020

Uma coleção de mosquitos obtidos ao longo do ano com armadilhas artesanais e mais de uma centena de voluntários no Ruanda Rural reportam níveis incómodos de mosquitos quando e onde os níveis de perigo de malária estavam no auge. Em adição a estes relatos, os voluntários pareceram distribuir conhecimento e técnicas sobre como controlar a malária nas populações. Estudos da Wageningen Universidade e Investigação e da Universidade do Ruanda mostram que a ciência popular tem grande potencial para reduzir o fardo da doença por todo o mundo.

Todos os anos, mais de 200 milhões de casos de malária são relatados em todo o mundo, resultando em mais de 400 mil mortes. Casos de malária na África Subsaariana têm estado a crescer nos últimos anos. No Ruanda o número de casos aumentou de 1,1 milhões em 2012 para 4,7 milhões em 2016. Este aumento foi observado entre todos os grupos etários. Os 10 distritos com o maior número de casos contabilizou mais de 62% de todos os casos de malária, maioritariamente nas províncias do este e do sul.

A ciência popular para aumentar a vigilância e controlo

A Organização Mundial de Saúde apela a investimentos em novas abordagens e ferramentas para acelerar o progresso no controlo e eliminação da malária. Implementar a disseminação da vigilância ao mosquito para produzir mapas do risco de malária é crucial para o controlo barato da malária. Sabe-se relativamente pouco sobre como interagir com as pessoas locais no controlo consistente da malária. Nos seus estudos de doutoramento, Domina Asingizwe e Marilyn Milumbu Murindahabi demonstraram o potêncial da ciência popular na vigilância e controlo do mosquito da malária em locais com poucos recursos como no setor Ruhuha do Ruanda. A sua investigação focou-se em cinco vilas de áreas rurais onde a monitorização dos mosquitos não estava estabelecida. Os cidadãos locais desempenharam um papel importante em determinar as atividades de investigação.

Hostspots de malária no mapa através do incómodo dos mosquitos

Estes estudos mostram que os hotspots de malária podem ser identificados ao pedir às pessoas que reportem regularmente o nível de incómodo dos mosquitos experienciado, bem como a ocorrência dos casos de malária numa casa de família. Por um ano, mais de uma centena de casas reportou níveis de incómodo que variavam de 1 (sem incómodo) a 5 (muito incómodo) todos os meses. Os hotspots de malária foram descobertos mais na parte sul do setor Ruhuha, especialmente nas vilas de Bisasamana e Kibaza. Vilas mais próximas do rio e localizadas numa elevação inferior tinham também mais casos de malária.

No total, 66% das casas relataram pelo menos um caso confirmado de malaria durante o período do estudo. Os níveis de incómodo foram os mais altos de dezembro, janeiro e fevereiro. Durante estes meses, em média, os números elevados de mosquitos foram também apanhados com as armadilhas artesanais. Para além disso, Kibaza e Busasamana foram as vilas onde mais mosquitos da malária foram apanhados pelos voluntários.

A motivação para parcipar variou entre a idade e género dos grupos. Jovens voluntários e mulheres estavam mais motivados para se juntarem ao programa por causa da curiosidade e desejo de aprender novas coisas. No geral, os voluntários adultos e homens eram motivados a aderir pela sua contribuição para o controlo da malária. Isto significa que diferentes segmentos da população têm diferentes motivações e indica que num programa de ciência popular, os grupos alvo podem requerir diferentes abordagens ao recrutamento e retenção.

Melhorando a saúde da comunidade

Tanto voluntários como não voluntários adquiriram conhecimentos e técnicas sobre medidas de controlo da malária em geral, e espécies de mosquito em particular entre voluntários. Aceitação da aplicação indoor de spray residual aumentou para cerca de metade dos participantes. O conhecimento relatado entre não-voluntários mostra também a difusão de informação relativa ao projeto. Isto mostra que o programa de ciência popular para o controlo da malária tem o potencial para interagir com os que estão diretamente envolvidos na recolha e submissão de dados de ciência popular e melhorar a saúde comunitária ao debruçar-se sobre os problemas de saúde pública.

Vasto Impacto Social

Implementar e gerir redes de ciência popular não é fácil, mas os resultados mostram que um programa de ciência popular para o controlo da malária tem potencial para estender o vetor de vigilância da malária em áreas onde o controlo do mosquito não estava estabelecido. Isto permite um olhar mais detalhado sobre a variação espacial e temporal do risco de malária. O envolvimento ativo e interação com cidadãos resulta num apoio societário necessário para implementar ações de controlo da malária em colaboração com as autoridades de saúde locais.

As conclusões da investigação e lições aprendidas durante os dois projetos de doutoramento e publicados nos relatórios de doutoramento, bem como num largo número de relatórios científicos, fornecem um recurso valioso para outras regiões em África e noutros locais que almejam o controlo da malária.

NH/HN/João Daniel Ruas Marques

 

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