Raparigas adolescentes em risco de automutilação podem ser identificadas com perfil psicológico

10 de Setembro 2020

“Esta condição maioritariamente oculta é caraterizada pela autoinflição de danos, tais como queimaduras e cortes. Muitos jovens que experienciam este comportamento potencialmente perigoso para a vida não procuram tratamento, e mais de metade continua o comportamento na vida adulta”.

Um estudo publicado no Journal of American Academy of Child and Adolescent Psichiatry (JAACAP), publicado pela Elsevier, reporta sobre três fatores chave entre adolescentes que podem ser utilizados para prevenir a primeira ocorrência de automutilação não suicida, ao longo de um período de três anos. Esses fatores incluem baixa consciência, alta evasão e historial de consumo de drogas por parte dos pais.

“A automutilação é comum em adolescentes, especialmente entre raparigas”, afirma a principal autora do estudo Monika Waszczuk, doutorada e professora assistente no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Stony Brook, em Nova Iorque. “Esta condição maioritariamente oculta é caraterizada pela autoinflição de danos, tais como queimaduras e cortes. Muitos jovens que experienciam este comportamento potencialmente perigoso para a vida não procuram tratamento, e mais de metade continua o comportamento na vida adulta”.

“Para ajudar a identificar as raparigas adolescentes que podem precisar de apoio antes da primeira ocorrência de automutilação procurámos compreender melhor as vulnerabilidades psicológicas deste comportamento”, explica Monika Waszczuk.

Estas conclusões são baseadas no estudo Desenvolvimento das Emoções e Traços de Personalidade dos Adolescentes: um projeto longitudinal ainda em andamento que controla a saúde e bem-estar de raparigas da zona de Long Island, em Nova Iorque. O estudo começou em 2013.

Uma amostra de 462 raparigas com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos de idade que nunca tinham experienciado automutilação até ao início do estudo completou uma séria medições para avaliar vulnerabilidades psicológicas, incluindo traços de personalidade e sintomas psicológicos. A saúde mental foi também avaliada nos pais dos participantes. Depois, foram colocadas perguntas às raparigas sobre autoflagelação em entrevistas repetidas ao longo de um período de três anos.

Durante o curso do estudo, 42 raparigas relataram ter iniciado comportamentos de automutilação. A base das suas vulnerabilidades psicológicas foi comparada com as restantes 420 raparigas que nunca se mutilaram. As raparigas que iniciaram comportamentos de automutilação foram dadas como tendo níveis base significativamente mais reduzidos de consciência e evasão. Eram também duas vezes mais prováveis de ter um pai com historial de consumo de drogas em determinado ponto da vida. Um perfil psicológico que combine estes dois fatores alcançou uma boa precisão no que toca a distinguir raparigas que iniciaram automutilação durante os três anos do estudo das que não o fizeram.

“Estes resultados apontam para dois principais caminhos psicológicos para a automutilação adolescente. O primeiro é a desinibição – uma urgência de agir e uma dificuldade de regular o próprio comportamento, muitas vezes quando deparados com fortes emoções negativas”, descreveu Molly Gromatsky, doutorada que liderou o estudo durante de graduação e é agora investigadora pós-doutorada no Centro Médico James J. Peter VA, no Bronx, Nova Iorque.

“O segundo caminho é a evasão de memórias ou pensamentos transtornantes, com a automutilação a ser utilizada como uma estratégia para a distração de pensamentos negativos intensos. O abuso de drogas por parte dos pais pode desempenhar um papel através da suscetibilidade genética para problemas de saúde mental, bem como através da transmissão de riscos através do ambiente em que se inserem”.

Com base em investigações anteriores, experiencias traumáticas tais como violência e abusos, ou a puberdade na infância e o bullying têm impactos significativos na automutilação não-suicida e noutras vulnerabilidades psicológicas. Este estudo não avaliou diretamente estes fatores. Ainda assim, determinar se o traço da evasão conduz a memórias traumáticas como um passo no desenvolvimento da automutilação não-suicida será um tópico importante para investigações futuras.

“Para além de expandir a nossa compreensão do desenvolvimento da automutilação, o estudo presente derivou um perfil de personalidade com boa capacidade de identificar raparigas adolescentes que estão em risco de iniciar a automutilação. Se for replicado em amostras independentes, este pequeno conjunto de caraterísticas deve permitir uma avaliação psicológica rápida, que seja viável para recolher amostras de adolescentes na comunidade (em escolas ou cuidados primários, facilitando a prevenção objetivada) ”, explicou o autor principal do estudo Roman Kotov, doutorado e professor no Departamento de Psiquiatria de Universidade Stony Brook, em Nova Iorque.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

 

 

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