COVID 19: dilemas sociais versus medidas de proteção

7 de Outubro 2020

As pessoas menos propensas a adotar medidas de prevenção sentem que as precauções tomadas pelos outros tornam as suas desnecessárias.

O conhecimento dos perfis psicológicos e sociais é importante para compreender como as medidas de proteção contra as doenças contagiosas são adotadas e, assim, definir as abordagens preventivas corretas. Logo no início da crise do coronavírus, antes de serem tomadas as medidas restritivas, uma equipa de especialistas em comportamento na saúde, da Universidade de Genebra (UNIGE), recolheu numerosos dados relacionados com a adoção de gestos de prevenção. Através de um estudo, publicado na revista “Applied Psychology: Health and Well Being”, psicólogos da Universidade de Genebra analisaram como os britânicos estavam a seguir as medidas de prevenção recomendadas no seu país.

A influência do comportamento de outras pessoas na tomada de decisões individuais, conhecida como “dilema social”, esteve no cerne da investigação. Os investigadores observam que as crenças sobre a Covid-19, tais como sentir-se vulnerável ou pensar que a doença é perigosa, têm pouco impacto na adoção de ações de prevenção. Os menos suscetíveis de as adotar são aqueles que sentem que as precauções tomadas pelos outros tornam desnecessárias as suas próprias precauções. Estes perfis psicossociais, entre outros, fornecem pistas para mensagens de prevenção mais eficazes.

Lisa Moussaoui, professora assistente do Grupo de Investigação em Psicologia da Saúde da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPSE) da UNIGE, e primeira autora do estudo, explica a abordagem: “procuramos compreender como as pessoas tomam decisões e agem a fim de intervir preventivamente”. É por isso que, a 13 de março de 2020, quando o Gabinete Federal de Saúde Pública anunciou a entrada em semi-confinamento, a investigadora e os seus colegas decidiram contribuir com os seus conhecimentos especializados para a crise da saúde relacionada com a Covid-19.

Os psicólogos de Genebra voltaram-se para o Reino Unido, que, ao contrário da Suíça, ainda não tinha entrado em confinamento. Este facto permitiu analisar o comportamento antes da entrada em vigor das medidas oficiais, a fim de se concentrar nas primeiras fases decisivas do confinamento.

Uma amostra representativa de 1006 cidadãos britânicos serviu de base para o estudo. Incluiu uma série de perguntas sobre a adoção de ações de prevenção recomendadas pelas autoridades de Saúde britânicas. “Em particular, medimos variáveis como a perceção da vulnerabilidade à Covid-19, a perceção da gravidade da doença e uma série de outras crenças”, refere Nana Ofosu, estudante de doutoramento na UNIGE e co-autora do estudo.

Os psicólogos verificaram que as medidas de proteção foram espontaneamente adotadas por uma grande parte da população. “É um fenómeno conhecido. Informar as pessoas sobre a presença de um perigo é suficiente para provocar uma mudança maciça e rápida de comportamento. Vimo-lo noutras situações trágicas, tais como a pandemia de SIDA. Apesar de tudo, existem bolsas de resistência”, diz Olivier Desrichard, professor na FPSE e co-autor do estudo.

O nível de educação, o ambiente familiar, a idade e o número de casos relatados na região não têm qualquer influência no comportamento. “Um resultado que contradiz os rumores de que certas camadas da população, tais como os jovens, respeitavam menos as instruções do que outras”, acrescenta Lisa Moussaoui.

Se mais ninguém o está a fazer, porque é que eu deveria ser o único a fazer esse esforço? Quanto mais os participantes no estudo concordam com esta questão, menos adotam as ações de prevenção. Outro fator que influencia negativamente a sua adoção é sensação de que a própria contribuição não tem qualquer utilidade em relação à magnitude do perigo. Finalmente, o estudo destaca o facto de que quanto mais contactos sociais têm os participantes, tais como relações profissionais, mais vulneráveis se sentem, sem que isso lhes estimule a adoção dos gestos certos.

Este estudo confirma, assim, que os dilemas sociais influenciam o comportamento. Esta abordagem psicossocial oferece um contraponto interessante à forma de comunicar sobre a Covid-19, concentrando-se na perigosidade do vírus e na importância de seguir instruções.

“É importante conhecer os verdadeiros determinantes do comportamento antes de iniciar uma acção de prevenção, para não falhar o objetivo desejado. A maioria dos entrevistados já estava convencida da importância de seguir as recomendações. Este tipo de mensagem não influencia o seu comportamento”, conclui Lisa Moussaoui.

Ver mais AQUI:
https://www.unige.ch/communication/communiques/2020/covid-19-dilemmes-sociaux-contre-gestes-barrieres/

 Informação bibliográfica completa:

Applied Psychology : Health and Well Being
Social psychological correlates of protective behaviours in the COVID-19 outbreak: Evidence and recommendations from a nationally Representative sample
Short title: C19 protective behaviours’ correlates

Lisa S. Moussaoui*1, Nana D. Ofosu 1, and Olivier Desrichard 1 1Faculty of Psychology and Educational Sciences, University of Geneva

DOI: 10.1111/aphw.12235

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