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Pelo ministério do SNS…
A COVID-19 desenvolveu um novo, desafiante e mundializado cenário. Este cenário põe à prova os sistemas de saúde e as organizações sociais e económicas, testando a cada momento as convicções perante o desconhecimento generalizado e de pormenor sobre o vírus. A propósito, o vírus que não é da China como diz o outro, mas é claramente de quem o apanha…
Se a vida económica e financeira ou a vida social tal como eram conhecidas ou praticadas estão parcial ou totalmente suspensas ou intermitentes, a evolução clínica das doenças e o sofrimento dos doentes não o estão.
E isso justifica, agravando, as consequências das faltas de respostas em consultas, sobretudo as primeiras consultas, de exames de diagnóstico ou follow-up, de cirurgias e tratamentos em internamento de dia ou outros sejam actividades ditas preventivas, curativas, paliativas ou de reabilitação.
Vamos precisar de quantificar os números da mortalidade não COVID e compreender a tragédia.
O recurso à consulta telefónica ou a outros meios de telemedicina não substituem, não dispensam e não geram o ambiente de confiança e de observação atenta a um exame físico ou ao que se chama de linguagem não gestual.
Um dos problemas identificados no passado pré-COVID foi o da falta de articulação de cuidados centrados no doente. Ora em contexto de pandemia, como se reforça ou minimiza o prejuízo dessa articulação ou sequer a comunicação entre os diversos médicos que seguem o paciente, o trabalho clínico em grupo?
E não será questionável o atraso nas referenciações e/ou menor qualidade das mesmas em função do que vem acontecendo?
É preciso falar também sobre o seguimento dos doentes oncológicos e pensar sob o alarme social gerado, reforçado pelo distanciamento físico das respostas de primeira linha nos Cuidados Primários, situação que pôs em off ou no mínimo o objectivo da acessibilidade garantido pelo SNS à população portuguesa.
Uma coisa seria melhorar a capacidade e o modelo organizativo do SNS dispensando idas desnecessárias aos hospitais e centros de saúde, concentrando no tempo e no espaço a realização de actos e tratamentos clínicos. Coisa totalmente inversa é nem sequer atender ou priorizar cabalmente as necessidades, garantindo em segurança as consultas presenciais que se impõem!
Preocupa-me que no seguimento médico de muitas patologias, mas sobretudo de muitos doentes, não pareça existir a percepção do que é diferente. Ou seja, telefonar ao meu utente ou ao meu doente porque precisa e quer apoio, é uma conduta que o deixa satisfeito e agradado. Mas é muito diferente eu como médico poder ficar tranquilo sobre a aferição clínica assim obtida ou o doente concluir que ficou observado e a avaliação efectuada foi a mais adequada.
E há ainda um paradoxo que me deixa desconfortável enquanto médico.
Se os profissionais de saúde nos Cuidados Primários ou Continuados ou nos Hospitais se debatem com dúvidas técnicas e/ou carências de material de protecção ou procedimentos eficientes de como actuar ou cumprir as suas tarefas, é muito complicado e grave e precisa de ser denunciado.
Mas se os nossos doentes, privados da acessibilidade e da proximidade que se criou pelos encerramentos e suspensões de muitos locais assistenciais, se confrontam com as suas morbilidades, terapêuticas e dúvidas e posologias e exames desmarcados, mais os receios e as questões sobre eventuais contactos com infectados por SARS-CoV 2, é dramático e só vai poder ser “debitado” ao Ministério do SNS que, com esta crise pandémica, se revelou o Ministério da conferência de imprensa diária e mais nada!
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