ENSP: Covid-19 não explica excesso de mortalidade entre março e setembro

4 de Novembro 2020

Em 2020, morreram mais 7.529 pessoas do que a média dos últimos cinco anos, mas a Covid-19 só é responsável 6.072 mortes (67,5%).

A notícia foi avançada pelo ECO e cita o Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, que analisou os óbitos desde que se apontou a primeira morte por Covid-19 em Portugal, 16 de março, e 30 de setembro.

Segundo o Barómetro Covid-19, a faixa da população mais afetada pela mortalidade excessiva foi a com mais de 85 anos. As faixas etárias dos 45 aos 64 anos e dos 65 aos 84 registaram também um aumento ligeiro na mortalidade de 4% e 8%, respetivamente, tendo havido até uma descida de 1% na mortalidade da população com idades entre os 15 e os 44 anos.

As explicações avançadas pelo jornal são duas: Segundo os investigadores do Barómetro de Covid-19, em 2020 observou-se uma queda na procura de cuidados pré-hospitalares na ordem dos 8%. Esta queda foi mais sentida nos cuidados de alta prioridade, avança ainda o jornal, o que sugere “que doentes com sintomas graves, que justificariam acionar meios de assistência pré-hospitalar de suporte imediato ou avançado de vida, terão tido relutância fazê-lo, com medo de se infetarem com Covid-19”.

A outra explicação avançada pelo ECO passa pela redução da qualidade dos cuidados de saúde prestados a doentes “não-covid”, incluindo casos agudos e crónicos.

Esta teoria é apoiada pela Ata Médica publicada em abril, que à data apontava para um aumento excessivo da mortalidade devido a óbitos identificados por Covid-19, a óbitos não identificados por Covid-19 e à diminuição do acesso aos cuidados de saúde.

O jornal adianta que em 2020 se observou uma redução em todo o tipo de consultas e episódios cirúrgicos, de hospitais ou nos Cuidados de Saúde Primários, com a exceção das consultas não presenciais ou inespecíficas, que sentiram um aumento de 115,7%.

Existem ainda outras hipóteses menos plausíveis. A ideia de que estas mortes possam ter sido causadas pela Covid-19 (explorada na Ata Médica) parece não fazer sentido, sobretudo em Portugal, que é um dos países que mais testa e em que o Sistema Nacional de Saúde é de acesso global. De ressaltar ainda que, para casos de morte por causas desconhecidas, os corpos são testados à Covid-19.

Também o Governo e a DGS avançaram com a sua explicação, em que as mortes excessivas se devem a uma eventual onda de calor que assolou o país algures entre o início do ano e o início de setembro. A HealhtNews foi confirmar as temperaturas dos meses de Verão junto da plataforma AccuWeather, e chegou à conclusão de que em nenhum dia de 2020 o país ultrapassou a temperatura máxima de 39 °C. A semana de 19 a 25 de julho foi, de resto, aquela em que se sentiram as temperaturas mais altas do ano, com o registo de máximas de 38 °C e 37 °C.

Em abril, na Ata Médica publicada periodicamente pela Ordem dos Médicos, um dos seus autores, António Vaz Carneiro do Instituto de Saúde Baseada na Evidência, defendia já que a mortalidade observada à altura era em muito superior ao que se anunciava.

“O estado de emergência em que Portugal tem estado levou a várias medidas restritivas com impacto, por exemplo, na redução da mortalidade por acidentes de viação ou de trabalho e também a uma quebra no número de outras infeções características desta época do ano ou de alturas de menor isolamento social, que devem ser descontadas dos resultados analisados. Quer isto dizer que o número de mortes a mais identificadas é ainda maior do que se pensava, ao não se considerar esta quebra nos óbitos na estrada ou de trabalho, entre outros”, explicava Vaz Carneiro em abril, à data da publicação da Ata Médica desse mesmo mês.

Nessa mesma Ata, o médico chamava atenção para o que agora se comprova – que o aumento da mortalidade não se explicava pelas mortes reportadas de Covid-19, e oferecia uma explicação complementar que apontava para a diminuição do acesso aos cuidados de saúde.

“Neste estudo, o número de mortos em excesso não-Covid foram 4 a 5 vezes mais numeroso que os Covid”, dizia Vaz Carneiro.

Estudo esse que avançava já números preocupantes: “entre 1 de março e 22 de abril houve menos 191.666 doentes com pulseira vermelha nos hospitais, menos 30.159 com pulseira laranja e menos 160.736 com pulseira amarela”, pode ler-se no artigo publicado pela Ordem dos Médicos acerca da Ata Médica.

PR/NR/LI/João Marques

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