A discussão focou-se sobretudo em dispositivos de controlo de níveis de glicémia – particularmente os que recorrem as escalas de cor – e outros parâmetros, mas também nas plataformas de comunicação que se impuseram entre doente e médico face à pandemia de Covid-19. Plataformas essas que, advertem as especialistas, devem ser discutidas com os médicos.
O webinar “Tenho Diabetes: como conseguir motivação e sentir-me mais acompanhado” decorreu na passada quinta-feira à noite, entre as 21 horas e as 22h30, e foi patrocinado pela Lifescan. O evento foi moderado por Sérgio Louro, do Grupo Diab(r)etes e a completar o painel estiveram a Dra. Cristina Valadas Diretora Serviço Endocrinologia Hospital Beatriz Ângelo e Ana Lúcia Covinhas, Psicóloga na APDP.
Foi num ambiente familiar e acolhedor que decorreu o webinar dedicado aos doentes com diabetes e às suas famílias, numa perspetiva de os motivar face à doença crónica e de controlo apertado. A endocrinologista Cristina Valadas foi a primeira intervir e focou o início da sua intervenção na relação entre paciente e médico.
“O meu papel é interpretar aquilo que me trazem, é por isso que pedimos registos, gráficos e que anotem o que fizeram e aquilo que comeram”, começou por explicar.
Para a Dra. Cristina Valadas, o grande obstáculo à melhoria do acompanhamento aos doentes com diabetes nesta fase de pandemia é o isolamento, que necessita de ser combatido tendo em conta a relação entre risco e benefício das deslocações ao hospital. Mas o isolamento não é apenas uma questão de quilómetros, advindo também ele, muitas vezes, de problemas de comunicação como a língua ou mesmo a falta de literacia em relação à doença.
“Quando peço níveis de glicémia às pessoas é para tirarem conclusões. Para mim, o pior de tudo, é quando a pessoa ‘pica o dedo’ e não age de acordo com os valores registados em relação aos limites de segurança”, ilustrou antes de rematar que, “o mais importante é abrir canais de comunicação com os pacientes”.
Em relação às restrições à atividade hospitalar impostas pela pandemia de Covid-19, a endocrinologista admite que “detesta consultas telefónicas”, não só pela questão pessoal e afetiva que se perde, mas sobretudo porque “estas consultas são incompletas e servem sobretudo quando a situação está estabilizada e para fazer alguns ajustes”.
“Para que a consulta resulte temos de ter resultados que têm de nos chegar através de um email ou de uma fotografia, mas se as pessoas tiverem aparelhos que consigam guardar registos e partilhá-los torna tudo muito mais fácil”, explicou exemplificando com glucómetros com avisos que recorrem a escalas de cor – que dão imediatamente ao doente a perceção da sua situação – e com acesso direto à internet.
Como método de combate ao isolamento, a Dra. Cristina Valadas apontou o exemplo das próprias farmácias “uma porta de proximidade para os doentes com diabetes” que cada vez mais, explica Cristina Valadas, “falam mais connosco e auxiliam os doentes em relação a estes equipamentos com coisas como ligar o aparelho ao smartphone”.
Mas mais do que um peso clínico, a diabetes é uma doença com uma forte componente psicológica face a questões como o controlo rigoroso da medicação e também da alimentação. Para a psicóloga Ana Lúcia Covinhas é importante perceber o grau de motivação dos doentes. Mas, adianta, “antes de esta predisposição [a motivação] ser trabalhada pelos nossos cuidadores, médicos e familiares é importante o próprio doente perceber qual é a sua motivação”.
“Mas motivação para quê?”. Para gerir a diabetes a todos os níveis, pois claro. Desde a gestão da informação que o doente procura, à terapêutica e às conversas que tem com o médico.
No ponto de vista transmitido pela psicóloga, “quando se fala em gerir a diabetes é fundamental pensar no agora. Aquilo que fazemos agora e o que queremos que seja o futuro é que conta”.
Nessa perspetiva, Ana Lúcia Covinhas fala da força do “compromisso” que, apesar de ser quebrável, envolve obrigatoriamente estas duas partes: a equipa médica interdisciplinar e o doente.
“Sempre que temos um compromisso com uma terceira parte sentimo-nos mais acompanhados e seguros. Temos menos medo e menos vontade de desistir, o que é fundamental nesta altura de difícil acesso às consultas”, ilustra a psicóloga. “Os enfermeiros, o médico, o nutricionista e as outras especialidades têm que conseguir falar uma mesma linguagem. É esse o ponto forte destes dispositivos com códigos de cor, que retiram a subjetividade aos dados e mostram o mesmo a toda a gente”.
“As fontes de informação também são tema para discutir nas consultas, presenciais ou telefónicas. As pessoas ouvem ideias em sítios diferentes mas, como não vêm de uma fonte médica, acabam por não as discutir com médicos. Não há duvidas disparatadas ou que não façam sentido”. Ainda assim, “não se devem discutir só as dúvidas”, adverte. “Temos também que discutir as certezas precisamente porque não as pomos em causa”.
Outro dos pilares essenciais no cuidado dos doentes é a educação terapêutica. Para Ana Lúcia Covinhas, ela passa por autonomizar os pacientes a dar seguimento à terapêutica, ainda que recorrendo às equipas de saúde e aos grupos de pares, “mas sabendo distinguir todas estas fontes com sentido crítico”.
Orientação, informação e motivação são essenciais no cuidado destes doentes.
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