Epidemia de VIH: Uso bem sucedido de autotestes na África rural

23 de Dezembro 2020

Apesar dos progressos significativos na prevenção e no tratamento, milhões de pessoas continuam a ser infetadas pelo VIH todos os anos. O principal fardo do VIH/SIDA recai sobre África. Para conter a epidemia, são necessários métodos inovadores que permitam o diagnóstico precoce de todas as pessoas afetadas.

Um grupo de investigação da Universidade de Basileia (Suíça) conseguiu melhorar significativamente o sucesso das campanhas de testes “porta-a-porta” graças aos autotestes de VIH.

Em 2019, cerca de 38 milhões de pessoas em todo o mundo foram infetadas com o VIH. Dois terços das pessoas afetadas vivem em África, principalmente a sul do Saara. Para conter a epidemia, é essencial que todas as infeções sejam tratadas com terapia antirretroviral para prevenir a transmissão do vírus. Isso, no entanto, requer um diagnóstico precoce. Especialmente em regiões remotas, que estão muito longe dos hospitais e dos laboratórios, o acesso aos testes de VIH continua a ser um desafio.

Estudo de caso no Lesoto

No Lesoto, um em cada quatro adultos está infetado com VIH. Estima-se que cerca de 15% das infeções neste pequeno país montanhoso do extremo sul de África permanecem sem ser detetadas e contribuem para uma maior propagação do VIH. Para muitos habitantes do Lesoto, a clínica mais próxima fica a algumas horas a pé ou a uma dispendiosa viagem de táxi. Para facilitar o acesso aos serviços de saúde e aos testes de VIH, os centros de saúde organizam regularmente campanhas de saúde “porta-a-porta”. Os estudos demonstraram, contudo, que apenas chegam a cerca de 60 por cento da população das aldeias.

Uma equipa liderada por Niklaus Labhardt, professor da Universidade de Basileia e líder do grupo de investigação “Swiss Tropical and Public Health Institute” (TPH), desenvolveu uma estratégia para melhorar a cobertura dos testes em 20 por cento. Pela primeira vez, a equipa combinou visitas domiciliárias com autotestes de VIH. Se os aldeões estiverem ausentes durante as visitas domiciliárias, a equipa deixa-lhes os autotestes e material informativo na língua local. Os conselheiros de saúde das aldeias, treinados previamente na utilização e avaliação dos autotestes, recolhem-nos mais tarde.

Abordagem simples mas de grande impacto

Um estudo randomizado em larga escala incluiu cerca de 150 aldeias com mais de 7.000 habitantes. Os resultados desta abordagem simples falam por si: “a taxa do teste de VIH na população do grupo de intervenção foi 20% mais elevada do que no grupo de controlo”, diz a bioestatística Tracy Glass, do TPH.

Num subestudo, a equipa de investigação analisou a estratégia junto dos jovens e complementou a investigação com entrevistas. “As campanhas tradicionais de despistagem do VIH não chegam suficientemente aos jovens, embora a taxa de infeção seja elevada, especialmente entre as mulheres jovens”, explica o primeiro autor do estudo, Alain Amstutz, também do TPH. “No grupo de intervenção, o autoteste resultou numa proporção 36% mais elevada de jovens que conhecem o seu estado de seropositividade, em comparação com o grupo de controlo”.

O número de mortes por SIDA tem vindo a diminuir em todo o mundo desde 2010. Mesmo assim, registaram-se 1,7 milhões de novas infeções em 2019, metade das quais em África. “Especialmente nas zonas rurais, é necessária uma alternativa às campanhas de saúde tradicionais para se conseguir uma cobertura ótima dos testes. A nossa estratégia é outro elemento importante para acabar com a epidemia de VIH/SIDA na África Austral”, diz o Prof. Niklaus Labhardt.

Este estudo foi desenvolvido em estreita colaboração com a Autoridade de Saúde do Lesoto e a ONG suíça “SolidarMed”. Teve o apoio financeiro de três entidades: “Swiss National Science Foundation”, “International AIDS Society” e “Stiftung für Infektiologie beider Basel”.

https://www.unibas.ch/en/News-Events/News/Uni-Research/HIV-epidemic–Successful-use-of-self-tests-in-rural-Africa.html

 Informação completa:

 Amstutz A, Lejone TI, Khesa L, et al.
Home-based oral self-testing for absent and declining individuals during a door-to-door HIV testing campaign in rural Lesotho (HOSENG): a cluster-randomised trial
The Lancet HIV (2020), doi:10.1016/S2352-3018(20)30233-2

 Amstutz A, Kopo M, Lejone TI, et al.
“If it is left, it becomes easy for me to get tested”: Use of oral self-tests and community health workers to maximize the potential of home-based HIV testing among adolescents in Lesotho.
Journal of the International AIDS Society (2020), doi: 10.1002/jia2.25563

 NR/HN/Adelaide Oliveira

 

 

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