Macacos-verdes africanos velhos e selvagens expostos ao vírus SARS-CoV-2 desenvolveram a Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda – SDRA com sintomas clínicos semelhantes aos que são observados nos casos humanos mais graves da Covid-19, relatam os investigadores no “The American Journal of Pathology”, publicado pela Elsevier.
Este é o primeiro estudo que demonstra que os macacos verdes africanos podem desenvolver doenças clínicas graves após a infeção pelo SARS-CoV- 2, sugerindo que podem ser modelos úteis para o estudo da Covid-19 nos humanos.
“Os modelos animais ajudam-nos muito na compreensão das doenças. A ausência de um modelo animal das manifestações graves da Covid-19 dificultou a nossa compreensão destas formas da doença”, explicou o investigador principal Robert V. Blair, do “Tulane National Primate Research Center” de Covington, nos Estados Unidos. “Se os macacos-verdes idosos demonstrarem ser um modelo consistente dos quadros graves da Covid-19, o estudo dos aspetos biológicos da doença nestes animais melhoraria a nossa compreensão da infeção e permitiria testar as opções de tratamento”.
Os investigadores expuseram quatro macacos-rhesus velhos e quatro macacos-verdes africanos também idosos ao SARS-CoV-2. Os animais mais velhos (13-16 anos de idade) foram escolhidos especificamente para verificar
se desenvolveriam a forma grave da doença, frequentemente observada nas pessoas idosas.
Todos os macacos desenvolveram diversas formas da doença, desde ligeiras a graves. Um dia após o rastreio de rotina não ter detetado sintomas especiais, dois dos macacos-verdes africanos começaram com dificuldades respiratórias que rapidamente progrediram para Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda -SDRA
Estudos radiológicos revelaram opacidade pulmonar generalizada nos dois macacos-verdes africanos, que contrastavam fortemente com as imagens obtidas no dia anterior e evidenciavam o rápido desenvolvimento da doença. Tais opacidades são uma marca distintiva da SDRA nos seres humanos.
Os macacos-verdes africanos que progrediram para uma doença grave apresentavam aumentos notáveis de citocinas no plasma, compatíveis com a “tempestade de citocinas” que se pensa estar na base do desenvolvimento da SDRA nalguns pacientes. Em contrapartida, as citocinas plasmáticas não aumentaram nos macacos-rhesus.
Os quatro macacos-verdes africanos apresentavam também níveis elevados de interferão gama; os dois que tinham progredido para SDRA tinham a concentração plasmática mais elevada.
Robert Blair sugere que a elevada carga de interferão gama poderia ser explorada como um potencial biomarcador preditivo de doença avançada e também como um possível alvo terapêutico.
“Os nossos dados sugerem que tanto os macacos-rhesus como os macacos- verdes africanos podem apresentar manifestações leves de infeção por SARS- CoV-2, mas os macacos-verdes africanos envelhecidos podem, adicionalmente, ser capazes de modelar manifestações graves da doença, incluindo a SDRA”.
Informação bibliográfica completa:
“Acute Respiratory Distress in Aged, SARS-CoV-2–Infected African Green Monkeys but Not Rhesus Macaques,” by Robert V. Blair, Monica Vaccari, Lara A. Doyle-Meyers, Chad J. Roy, Kasi Russell- Lodrigue, Marissa Fahlberg, Chris J. Monjure, Brandon Beddingfield, Kenneth S. Plante, Jessica A. Plante, Scott C. Weaver, Xuebin Qin, Cecily C. Midkiff, Gabrielle Lehmicke, Nadia Golden, Breanna Threeton, Toni Penney, Carolina Allers, Mary B. Barnes, Melissa Pattison, Prasun K. Datta, Nicholas J. Maness, Angela Birnbaum, Tracy Fischer, Rudolf P. Bohm, and Jay Rappaport (https://doi.org/10.1016/j.ajpath.2020.10.016).
AlphaGalileo/HN/Adelaide Oliviera
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