[xyz-ips snippet=”Excerpto”]
Clareza na vacina
Não é exagero classificar as vacinas contra o Sars-CoV-2 como o nosso bem mais precioso. São elas que irão permitir aliviar a pressão nos hospitais, permitindo retomar a atividade programada, salvar vidas, controlar a pandemia e recuperar a economia. É essencial que o plano de vacinação e a sua execução sejam democraticamente escrutinados, monitorizados e avaliados. Isso inclui, necessariamente, uma atenção para os casos de fraude que têm vindo a tornar-se públicos, e que, apesar de corresponderem a menos de 1% do total de vacinas administradas, não deixam de minar a confiança do cidadão nas suas instituições.
É importante distinguir entre sobras legítimas, mesmo que administradas a pessoas não elegíveis, de verdadeiras fraudes relacionadas com o uso indevido de vantagem. As primeiras são resolvidas com uma clarificação da norma, que já ocorreu, as segundas são casos para serem avaliados pela inspeção geral das atividades em saúde e pelo ministério público. É preciso trabalhar para retirar os incentivos à ocorrência de fraudes. Uma eficaz auditoria aos processos, conjugado com a respetiva sanção nos casos em que esta se justifique, contribuirão não só para não só para restaurar a confiança do cidadão, como para desincentivar as práticas lesivas do interesse comum.
Estamos numa corrida contra o tempo, não podemos apenas fiar na promessa que as vacinas irão para os lares, queremos essa evidência. Precisamos de tornar a informação mais clara. Um simples quadro contador do número vacinas administradas está longe de ser o suficiente. É necessário ter dados sobre as vacinas que chegam, a que região e grupos prioritários se destinam e se esta administração se verificou.
Além da melhoria dos critérios e da clareza sobre as perspetivas e a evolução da campanha de vacinação, há que introduzir ajustes pontuais à rota inicialmente traçada, ajustando-a com base no conhecimento que o primeiro mês de vacinação já permitiu alcançar. A título de exemplo, os dados que nos chegam de Israel mostram que, 18 dias após a primeira toma, se assistiu a uma diminuição de 60% nos internamentos no grupo com idade superior a 60 anos, o que nos alerta para a importância de em Portugal, para reduzir a mortalidade e a pressão hospitalar, ser necessário reforçar esforços junto deste segmento da população, especialmente dos que vivem em lares ou sofrem de outras patologias que aumentam a sua vulnerabilidade.
A agência europeia do medicamento, quando aprovou a vacina da Pfizer, afirmou que a segunda dose deveria ser tomada entre 21 a 42 dias. Posteriormente retirou, uma vez que nos ensaios clínicos, 93% dos participantes tomaram a segunda dose entre os dias 19 e 23. Sabendo que a Pfizer vai aumentar as entregas após o dia 16 de fevereiro, podemos ponderar adiar alguns dias a segunda dose, de forma a cobrir rapidamente todos os lares e pessoas com risco acrescido do grupo I. Dito de outra forma, devíamos refletir sobre utilizar as reservas para aumentar cobertura da primeira toma e assim abrandar a progressão e impacto da doença.
O confinamento começa a produzir os primeiros efeitos e, apesar da situação na área metropolitana de Lisboa ainda ser muito delicada, pela influência da denominada variante inglesa, o nível de contágio (indicado pelo R(t) já diminuiu. Esta diminuição já se faz notar com uma desaceleração da progressão da pandemia. Infelizmente, dado o natural desfasamento entre novos casos e a sua consequência nos internamentos, ainda teremos pelo menos, uma quinzena muito dura nos nossos hospitais.
Teremos que manter todas as medidas que impeçam a transmissão do vírus, sabendo que é totalmente diferente haver oito mil novos casos por dia, mas ter o grupo prioritário já vacinado. A luz ao fundo do túnel começa a surgir, mas não podemos ainda sair dos carris.
0 Comments