“O Ébola não quer saber de fronteiras. Estreitos laços sociais, culturais e económicos entre comunidades da Guiné-Conacri e países vizinhos criam um risco muito sério de propagação do vírus para a Libéria, Costa do Marfim e Serra Leoa, e potencialmente, ainda mais longe”, disse Mohammed Mukhier, diretor regional para África da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (IFRC, na sigla em inglês).
Por isso, desde o alerta do surto, em 14 de fevereiro, voluntários e pessoal da Cruz Vermelha da Guiné-Conacri, Libéria, Costa do Marfim, Mali, Senegal e Serra Leoa “intensificaram os esforços de vigilância e sensibilização das comunidades”.
Para financiar estas atividades, a IFRC lançou um apelo de emergência internacional para conseguir 8,5 milhões de francos suíços (cerca de 7,8 milhões de euros).
“Estamos a lançar uma operação transfronteiriça integrada destinada a confinar rapidamente o surto à sua localização atual e a conter rapidamente qualquer eventual surto para além da Guiné-Conacri”, acrescentou.
Em N’zérékoré, região da Guiné-Conacri onde foi declarado o surto de Ébola, equipas da Cruz Vermelha foram mobilizadas para fazer enterros “seguros e dignos” para as vítimas e estão também envolvidas na desinfeção do hospital ao mesmo tempo que iniciaram uma campanha de informação comunitária sobre o regresso da doença.
Estima-se que haja 1,3 milhões de pessoas a viver na região afetada pelo surto, o primeiro na Guiné-Conacri após a epidemia de 2013-2016 na África Ocidental, que matou 11.300 pessoas na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa.
O plano da Cruz Vermelha da Guiné-Conacri prevê apoio para 420.000 pessoas, sensibilizando e vigiando a comunidade, fornecendo serviços de água, saneamento e higiene, enterros seguros, prevenção e controlo de infeções, bem como apoio psicossocial.
Nos países vizinhos, as ações da Cruz Vermelha visarão mais 6 milhões de pessoas. Na Serra Leoa, uma rede de 200 voluntários da Cruz Vermelha em Kambia e Kailahun estão em alerta máximo e a conduzir atividades de vigilância.
Além disso, foram enviadas equipas para os outros quatro distritos – Kono, Koinadugu, Área Ocidental e Pujehun – que fazem fronteira com a Guiné-Conacri e a Libéria, onde mais 100 voluntários estão a preparar atividades de sensibilização das populações.
Também no Mali e no Senegal, as equipas da Cruz Vermelha estão a reforçar a vigilância nos pontos de fronteira.
As equipas da Cruz Vermelha estão também preocupadas com as necessidades criadas pela limitação de movimentos das pessoas, numa tentativa de conter o surto.
De acordo com a Cruz Vermelha, como resultado das medidas de saúde pública, “as pessoas próximas do epicentro já estão a precisar de água, saneamento e serviços de higiene, bem como de assistência alimentar.
“Este surto é suscetível de complicar uma situação já difícil. As medidas de contenção relacionadas com a covid-19 atualmente em implementação exacerbaram a insegurança alimentar na região e isto pode levar à relutância das comunidades em respeitar novas medidas preventivas que estão a ser postas em prática para conter o Ébola”, alertou Mukhier.
De acordo com os dados mais recente da OMS sobre o surto de Ébola na Guiné-Conacri, foram registados oito casos do vírus (quatro confirmados e quatro prováveis), cinco pessoas morreram e foram identificados 348 contactos, que estão a ser monitorizados.
O país deveria iniciar hoje a campanha de vacinação contra o Ébola, mas devido ao nevoeiro, o avião que transportava as vacinas enviadas pela OMS de Genebra, na Suíça, foi forçado a seguir para Dacar, no Senegal.
Além das vacinas enviadas pela OMS, mais de 8.500 doses adicionais chegarão dos Estados Unidos, e há uma equipa de trinta profissionais mobilizada para começar a vacinação.
O vírus Ébola transmite-se aos seres humanos por animais infetados e, entre pessoas, através de fluidos corporais, provocando sintomas como febre, vómitos, hemorragias e diarreia.
A doença voltou a aparecer também na República Democrática do Congo, onde já fez quatro mortos.
Lusa/HN
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