ONU alerta que sobrelotação agrava riscos face à Covid-19 em Moçambique

14 de Março 2021

A sobrelotação dos distritos de Cabo Delgado, norte de Moçambique, para onde foge a população atormentada pelos ataques armados na região, representa um risco para saúde, em especial para prevenir a Covid-19, alertam as Nações Unidas.

“Tem sido um desafio implementar medidas preventivas da covid-19 em Cabo Delgado devido à capacidade e financiamento limitados do Governo e das organizações humanitárias para responder às crescentes necessidades”, lê-se no mais recente relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), consultado ontem pela Lusa.

Um dos principais constrangimentos na prevenção da Covid-19 “é o facto de vários locais da província estarem sobrelotados, tornando a distância física um desafio significativo, juntamente com a falta de máscaras faciais e acesso limitado a sabão e água para lavar as mãos”.

Por outro lado, o ACNUR continua “profundamente preocupado com a situação das comunidades deslocadas em áreas de difícil acesso”.

Seis distritos de Cabo Delgado, norte de Moçambique, permanecem inacessíveis a ajuda humanitária: Quissanga, Macomia, Meluco, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Nangade.

“Garantir o acesso humanitário a essas áreas é uma prioridade para garantir que a assistência chegue aos necessitados”, destaca o documento.

Palma, distrito de implantação dos megaprojetos de gás natural e cujos acessos por terra têm estado cortados por falta de segurança, está acessível, “apesar dos desafios logísticos e da segurança instável”.

As operações do ACNUR continuam nos distritos de Pemba, Ancuabe, Chiure, Montepuez e Metuge.

Moçambique atravessa até abril a estação de chuvas, que continua a deteriorar a já de si débil infraestrutura rodoviária, “resultando em desafios para os atores humanitários chegarem a certas áreas, como Mueda”.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

A situação de insegurança levou a petrolífera Total a diminuir o número de trabalhadores e a abrandar os trabalhos no megaprojeto de gás na região até que seja garantido um perímetro de segurança pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas.

No entanto, mantém-se a previsão de início de exportação de gás natural liquefeito em 2024.

Lusa/HN

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