Em declarações à Lusa, o gastrenterologista afirmou que através do rastreio e diagnóstico precoce é possível reduzir a incidência e mortalidade por este cancro, que, “se nada for feito, irá afetar um em cada 20 portugueses”.
Devido à pandemia de Covid-19, houve “uma redução marcada” da atividade do Programa de Rastreio do Cancro do Cólon e Reto (CRR) em toda a região Norte, entre março e junho de 2020, atendendo aos riscos que os procedimentos inerentes acarretavam e à necessidade de alterar as rotinas de trabalho quer nos cuidados primários, quer a nível hospitalar.
“Embora se tenha registado uma quebra de 53% na atividade, em setembro de 2020 o programa recomeçou e desde então encontra-se a funcionar em segurança para o utente e para os profissionais”, realçou o especialista.
O Programa de Rastreio do Cancro do Cólon e Reto (CRR) no Norte foi implementado pela Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N), em 2017, e destina-se aos utentes dos 50 aos 74 anos de ambos os sexos, inscritos nas unidades de cuidados de saúde primários. No primeiro ano, foram convocadas mais de 150 mil pessoas.
O rastreio do CCR é feito através da realização da pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF), a cada dois anos. Caso a PSOF seja positiva, o utente é chamado para efetuar uma colonoscopia. Para integrar este rastreio, o utente é convocado por carta.
Mas, defendeu o especialista, caso não seja convocado, o utente deve procurar o seu médico assistente e decidir com ele qual o método de rastreio mais adequado para si.
O IPO do Porto é o hospital que tem liderado a realização destas intervenções, tendo já realizado mais de 300 colonoscopias desde o início do programa.
“A adesão tem sido inferior ao esperado, mas a taxa de deteção de pólipos e cancro tratáveis foi sobreponível à literatura. Por isso, e estando nós a viver uma pandemia, é fundamental que se sensibilize a população para a importância da realização do rastreio colorretal, assegurando que é seguro vir ao hospital ou às estruturas de saúde quando for convocado”, sublinhou.
Segundo o diretor do Serviço de Gastrenterologia do IPO/Porto, “o Governo português, como outros, optou por uma medida de rastreio que tem tendência a ter maiores taxas de adesão”.
“A Norte estamos a falar de taxas de adesão de 35/40%, claramente melhoráveis”, considerou, apelando à realização de mais ações de sensibilização, porque “não existe a perceção de risco, mas o cancro colorretal pode atingir qualquer pessoa”.
Frisou que “uma em cada 20 pessoas vai ter a neoplasia e só uma delas, em média, viverá para contar”.
“Previna-se, fale com o seu médico, porque o sistema está a funcionar. É uma decisão individual, mas depois todos perdemos a nossa individualidade quando queremos que o sistema responda para cuidar de nós, como se viu com esta pandemia”, acrescentou.
Em 2020, o serviço dirigido por Mário Dinis Ribeiro teve uma redução de um terço da sua atividade, porque foi necessário “suspender por um período que correspondeu a um quadrimestre, portanto, três a quatro meses”.
“Por exemplo, o número de colonoscopias realizadas como método de rastreio, de seguimento por outras situações ou com queixas, teve uma redução entre os 50 e os 75%”, afirmou.
O ano 2020 “foi muito desinteressante para a sociedade, mas não é impossível recuperar. Terá impacto, porque houve cidadãos que podiam ter beneficiado de saber que tinham um pólipo e não fizeram o rastreio. Portanto, o apelo é que o façam. Não o façam com emergência, com alarmismos, mas que o comecem a fazer assiduamente e regularmente para que possam recuperar o tempo perdido”, frisou.
O especialista falava à Lusa no âmbito do mês de sensibilização para o Cancro Colorretal, internacionalmente conhecido por “março azul”.
LUSA/HN
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