Miguel Xavier, que hoje foi ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do Bloco de Esquerda, considerou o número de psicólogos nos cuidados de saúde primários “manifestamente insuficiente”, sublinhando que o modelo de resposta usado em Portugal é de articulação entre médicos de família, psicólogos, enfermeiros e psiquiatras.
“Este modelo precisa de gente dedicada do ponto de vista da psicologia nos centros de saúde”, considerou.
Questionado sobre articulação com os hospitais, Miguel Xavier disse que já há articulação entre cuidados hospitalares de psiquiatria e os cuidados de saúde primários, e que há “bons exemplos”, mas vincou que “não há um modelo implementado para a resposta não farmacológica para a depressão e ansiedade no nosso país”.
“E isto não vai lá com 40, 50 ou 60 psicólogos. É preciso muito mais gente”, afirmou o responsável, que disse reconhecer que estes profissionais não poderão entrar todos de uma vez, mas que terão de entrar de forma progressiva.
“Mas esta gente vai ser precisa para podermos dizer que temos este modelo implementado no nosso país, sem grandes assimetrias regionais, que é outro problema que me preocupa. Não é garantir que o modelo funciona em Lisboa, Porto e Coimbra e, depois, a restante região do país, como sempre, fica sem recursos”, acrescentou.
Sobre a criação de um “cheque psicólogo”, o responsável disse ser contra, sublinhando que o núcleo de funcionamento deve ser “a equipa multidisciplinar”.
“Os problemas de saúde mental são complexos e nenhuma classe por si só consegue responder à complexidade que têm estes problemas. Defendemos que o cerne do funcionamento devem ser as equipas multidisciplinares”, afirmou, insistindo: “Faltam psicólogos, mas também enfermeiros, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, nomeadamente numa fase em que os determinantes socioeconómicos são tão importantes”.
“Pensar que apenas com uma especialidade posso dar resposta é errado. Os psicólogos têm de ser contratados e recrutados para as várias instâncias do Serviço Nacional de Saúde, quer para serviços de psiquiatria, quer para os cuidados de saúde primários. O ‘cheque psicólogo’ não é o modelo em que o Programa Nacional para a Saúde Mental se revê”, acrescentou.
Sobre o que ficou por fazer na área da saúde mental nos últimos anos, Miguel Xavier afirmou: “tudo o que estava previsto em 2019 do ponto vista estrutural e ficaram por fazer as situações que envolvem o não cumprimento de direitos humanos dos doentes”.
“Temos em Portugal algumas situações em que os direitos humanos dos doentes não são cumpridos, a começar pela própria situação logística em que alguns se encontram. São situações que eu considero da maior prioridade, quer pela dignidade dos doentes, quer pela dignidade dos profissionais, quer pelo nome do nosso pais”, concluiu.
LUSA/HN
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