Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Pé alerta que Tendinite de Aquiles pode desencadear outras doenças

04/03/2021
O nome dado à doença em muito se relaciona com a história de um dos mais famosos heróis gregos. Afinal, qualquer um de nós pode ser um Aquiles. O tendão do Aquiles é o mais forte do corpo humano, conseguindo suportar até 12,5 vezes o peso corporal. Paulo Amado, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Pé, sublinha que a saúde dos pés “tem forte impacto em todo o resto do corpo”. A perda da elasticidade do tendão pode “gerar todo um conjunto de desequilíbrios que vão criando outras patologias”.

HealthNews (HN)- A tendinite de Aquiles carateriza-se pela inflamação do tendão na parte de trás do pé ou calcanhar, mas também engloba micro roturas. Quais os principais sintomas e sinais de alarme?

Paulo Amado (PA)- Os sintomas manifestam-se pela dor quando o doente vai a andar ou quando vai a correr e ocorre, sobretudo, no final da corrida. A dor pode tornar-se muito incomodativa e, em muitos casos a dor só desaparece quando a pessoa está em repouso.

É importante ter em conta que, caso a dor se prolongue por mais de uma semana, convém recorrer ao médico para ser analisada e, eventualmente, realizar uma ecografia.

HN- Existem dois tipos de tendinite do Aquiles, a Tendinopatia insercional do Aquiles e a Tendinopatia não-insercional do Aquiles. O que distingue as distingue? Existem semelhanças?

PA- A semelhança que existe é que ambas são no tendão de Aquiles, mas a Tendinopatia não-insercional do Aquiles ocorre no corpo do tendão e vem para cima (para o músculo gémeo) e a Tendinopatia insercional do Aquiles é mesmo em baixo do tendão, onde o tendão se conecta com o calcâneo (osso do calcanhar). Esta é mais grave porque é uma zona muito pouco protegida, em que pode evoluir para uma inflamação grave ou mesmo uma rotura. No caso da tendinite não-insercional, por norma, o doente tolera mais.

HN- Ambas podem provocar a perda da elasticidade das fibras do tendão. De que forma a calcificação no tendão de Aquiles compromete a saúde dos doentes?

PA- Aquilo que acontece nos pés tem forte impacto em todo o resto do corpo. Tenho um caso de uma senhora que acabou por ser operada a uma hérnia inguinal que surgiu na consequência de um problema que teve no pé.

No fundo, a perda da elasticidade do tendão pode desencadear não só uma contração daquilo que chamos “a cadeia posterior” muscular da perna, mas pode gerar todo um conjunto de desequilíbrios que vão criando outras patologias também.

HN- Caso seja a pessoa seja diagnosticada com tendinite qual o passo a seguir?

PA- Nesse caso tem de ser tratado. Há muitas pessoas que vão aguentando, o que é um erro porque pode evoluir para uma rotura. Quando isto acontece em quase 90% dos indivíduos jovens é precisa uma intervenção cirúrgica. Estamos a falar do tendão mais forte do corpo humano.

HN- Quando um doente sofre uma lesão que sequelas podem surgir?

PA-  Pode ficar uma tendinite crónica. A tendinose é quando há uma inflamação já crónica. Muitos doentes ficam incapacitados de fazer desporto.

HN- Como presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina e Cirurgia do Pé o que salientaria na inovação do tratamento das tendinites?

PA- É óbvio que a fisioterapia tem um aspeto importante. É óbvio que alguns gestos desportivos têm de ser modificados (até o tipo de calçado), mas hoje em dia quando a tendinite é mais agressiva temos métodos semi-invasivos, onde utilizamos produtos biológicos (tirados do sangue do próprio doente) e que infiltramos no tendão de forma que acelere a cicatrização do tendão e que consiga até regenerar em melhor qualidade o tendão.

HN- E no procedimento cirúrgico o que modificou?

PA- Hoje em dia operamos as tendinites do Aquiles por endoscopia, o que significa que já não abrimos a pele, mas passamos a fazer pequenas incisões, quer no tratamento de tendinite ou de roturas.

HN- Por que motivo são desaconselhadas as injeções de cortisona?

PA- Hoje em dia temos armas terapêuticas por infiltração que nada tem a ver com a cortisona, estamos a falar em fatores de crescimento, em colagénio que usamos precisamente para fortalecer os tendões. Portanto, temos novas opções terapêuticas biológicas sem a agressividade dos corticóides, que poderão ter a sua utilidade, mas muito pontualmente.

HN- Podemos então concluir que qualquer pessoa está sujeita a sofrer de tendinite de Aquiles, uma vez que resulta do stress repetido exercido sobre o tendão?

PA- Cada vez mais notamos um maior número de pessoas com tendinite do Aquiles e não apenas de atletas, mas sim de pessoas que fazer corridas por lazer. Isto pode ser explicado pela má preparação física, com o uso inadequado de sapatos desportivos ou inclusive com os terrenos onde a pessoa corre. O grande truque hoje em dia consiste na prevenção, pois é uma solução importante para evitar lesões graves.

Entrevista de Vaishaly Camões

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