Hélder Novais e Bastos recebe hoje, numa cerimónia que decorre no auditório do Hospital CUF Porto e é transmitida em ‘streaming’, a bolsa no valor de 50 mil euros, promovida pela Fundação Amélia de Mello em parceria com a CUF e destinada a premiar a investigação de jovens médicos.
Em declarações à agência Lusa, o pneumologista e investigador admitiu sentir-se “frustrado” nos últimos anos de trabalho por não ter “as ferramentas” necessárias que “a ciência pode dar para tratar adequadamente os doentes”, nomeadamente, que permitam prever a evolução da fibrose pulmonar.
“Senti também que não tinha as ferramentas terapêuticas todas para melhorar o prognóstico dos doentes”, afirmou o médico.
A fibrose pulmonar, doença crónica subdiagnosticada, causa a deterioração gradual da função pulmonar, resultando em cansaço crescente, insuficiência respiratória e morte.
“A fibrose pulmonar não é apenas uma doença, é o produto final de um conjunto de doenças pulmonares difusas, em que, seja qual for o estímulo inicial, acabam por desenvolver um processo de cicatrização anómalo e progressivo que se autoperpetua”, esclareceu o médico.
O desconhecimento sobre os mecanismos da doença fez com que a fibrose pulmonar se tornasse, nos últimos anos, numa das principais razões para o transplante do órgão, representando cerca de um terço do total de transplantes de pulmão em Portugal e no mundo.
“É uma doença que tem uma taxa de mortalidade comparável a muitos tipos de cancro e que é tão ou mais grave do que alguns tipos de cancro, mas para a qual não existe informação tão atualizada e completa como temos para o cancro”, salientou o pneumologista, acrescentando que muitos doentes acabam por ficar dependentes de oxigénio suplementar ou mesmo por morrer.
Segundo Helder Novais e Bastos, a bolsa D. Manuel de Mello vai permitir investigar a prevalência das doenças pulmonares que conduzem à fibrose progressiva, bem como explorar as interações entre a genética e os fatores ambientais.
A investigação pretende por isso criar um registo de doentes com fibrose pulmonar que, através de uma ‘coorte’, vão ser seguidos ao longo do tempo.
“Além de percebermos o histórico dos doentes, vamos fazendo colheitas de amostras biológicas, como de sangue, para perceber o que se está a passar com o doente”, referiu, acrescentando que vão ser realizadas análises adicionais de outros mediadores moleculares.
“Vamos tentar desvendar quais é que são importantes e se associam à progressão da doença. Se percebermos quais são os que se associam à progressão, podemos identificá-los precocemente”, salientou.
Além de permitirem a identificação precoce da doença, os biomarcadores que vão ser estudados podem também vir a ser potenciais alvos terapêuticos, ao estarem associados ao desenvolvimento da doença.
À Lusa, o médico e também investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) disse querer recrutar pelo menos 150 doentes, sendo que o objetivo é acompanhar a ‘coorte’ além do horizonte do projeto.
Quanto à base regional de doentes da região Norte do país que vai ser criada no âmbito da bolsa, Hélder Novais e Bastos disse esperar que a mesma “sirva de estímulo para outros grupos”.
“Vamos tentar estimar a prevalência desta doença na população que está sob influência do Hospital de São João. Espero que sirva de estímulo para outros grupos”, acrescentou o também professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
A bolsa D. Manuel de Mello é atribuída desde 2007 a jovens médicos que desenvolvem projetos de investigação clínica, no âmbito das unidades de investigação e desenvolvimento das faculdades de medicina portuguesas.
A cerimónia da entrega da bolsa, que decorre hoje pelas 11:00, conta com a presença do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Sales e do Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
LUSA/HN
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