Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto explica que a investigação, publicada na revista Arthritis and Rheumatology e que contou com a colaboração do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP) e do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC), permitiu descobrir uma “assinatura molecular única” em doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico.
A descoberta “permitirá saber com antecedência como irá evoluir a doença e agir atempadamente, evitando assim situações mais graves, como a perda progressiva e irreversível da função do rim”.
O Lúpus Eritematoso Sistémico é uma doença autoimune debilitante que atinge principalmente mulheres jovens, no seu período ativo de vida, tendo um impacto negativo na qualidade de vida dos doentes.
A doença caracteriza-se por uma perda global da tolerância imunológica, com autoprodução de anticorpos que podem originar a inflamação e lesão de múltiplos órgãos.
Uma das manifestações clínicas mais comuns e graves do Lúpus Eritematoso Sistémico é a nefrite lúpica, que afeta até 60% dos doentes, podendo evoluir para doença renal crónica ou terminal em cerca de 25%.
A equipa de investigadores, liderada por Salomé Pinho, recorreu a amostras de doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico que tinham o rim afetado, tendo identificado “uma composição de estruturas de açúcares incomum”.
A expressão incomum de açúcares à superfície das células do rim dos doentes “parece ser uma peça fundamental para um reconhecimento anómalo por parte do sistema imune, desencadeando uma resposta inflamatória exacerbada no rim, que caracteriza esta doença autoimune”, salienta o instituto.
Citado no comunicado, o médico António Marinho, do serviço de Imunologia Clínica do CHUP, afirma que a identificação deste biomarcador é “uma mais-valia” para a identificação precoce de doentes com maior risco de má resposta e de progressão para doença renal crónica terminal.
Também Inês Alves, primeira autora do artigo, salienta que a descoberta de que as células renais de doentes com nefrite lúpica apresentarem açúcares anormais pode ser essencial “na decisão e monitorização clínica e terapêutica destes doentes”.
A investigação contou também com a colaboração de um centro de investigação holandês, que fez a caracterização estrutural destes açucares nas biopsias de rim de doentes, utilizando técnicas avançadas de espetrometria de massa.
Ao compararem as alterações de açúcares noutras doenças que podem atingir o rim, como a diabetes tipo 2, os investigadores mostraram que se tratava “de uma assinatura única da nefrite lúpica”, salienta Salomé Pinto, que coordena o grupo Immunology Cancer & GlycoMedicine do i3S.
“Os glicanos [açúcares] são reguladores chave da resposta inflamatória. E, como tal, quando esses glicanos se encontram alterados na célula dão indicações ao sistema imunitário para combater a célula, desencadeando uma reação autoimune. São, por isso, potenciais biomarcadores com valor prognóstico e promissores alvos terapêuticos”, salienta a investigadora.
As evidências científicas sugerem que fatores genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento Lúpus Eritematoso Sistémico, no entanto, o mecanismo subjacente à disfunção imunológica “permanece por esclarecer e a doença continua incurável”, acrescenta o i3S.
LUSA/HN
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