Cardiologistas defendem telemedicina e desafio será definir doentes a seguir à distância

7 de Maio 2021

O presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) defende que a telemedicina, que cresceu com as exigências da pandemia, deve manter-se e que a questão crítica nas consultas é definir quais os doentes que podem ser seguidos à distância.

O responsável sublinha as vantagens do seguimento à distância para alguns casos, dando igualmente o exemplo de um projeto piloto na área da telemonitorização no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), designadamente na unidade de insuficiência cardíaca avançada, que conseguiu evitar muitos reinternamentos.

“Depois da alta, alguns doentes com insuficiência cardíaca grave, viram instalada na sua residência tecnologia que permite transmitir sinais à distância e que permite identificar precocemente as descompensações e intervir atempadamente”, explicou o diretor do Serviço de Cardiologia do CHUC.

Lino Gonçalves contou ainda que, quando o sistema ativa os alertas, existe uma intervenção por parte de quem segue o doente, alterando a medicação e procurando contactar com o médico de família, evitando assim que a situação se degrade e que o doente tenha de acabar por ir à urgência, já em estado mais complicado.

Os dados desta experiência inicial, que acompanha nesta altura 30 doentes, mostram que com esta monitorização à distância se conseguiu evitar reinternamentos em 68% dos casos.

Lino Gonçalves disse que, nas consultas externas, a questão crítica vai ser a definição dos critérios e das situações em que a consulta presencial é essencial, como, por exemplo, as primeiras consultas.

“Para alguns doentes selecionados, as consultas poderão manter-se à distância, mantendo a segurança para o doente”, afirmou.

O médico lembrou que os profissionais, ao conversarem com o doente mesmo por via telefónica, conseguem perceber muitas coisas e que com o vídeo têm informação adicional, como a postura e a forma como o doente fala.

Apontou ainda as experiências já existentes na área da telesaúde, entre profissionais de saúde – para análise conjunta de casos – e entre hospitais e centros de saúde.

“Permite resolver problemas a distância, dando apoio aos cuidados de saúde primários e evitando deslocações de doentes aos hospitais”, afirmou.

O novo presidente da SPC dá o exemplo de um projeto piloto em que participou há alguns anos com centros de saúde, em contexto de urgência, e em que o contacto do cardiologista com o médico de medicina geral e familiar conseguiu evitar o envio para as urgências hospitalares de 60% dos doentes.

Da sua experiência como cardiologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Lino Gonçalves contou que os doentes já estão a recuperar a confiança e a regressar aos hospitais e aos cuidados de saúde.

“Vemos já que os doentes estão a regressar, particularmente no hospital onde trabalho já há mais doentes nos corredores das consultas externas, mas isto não pode ser sinal de relaxamento de cuidados. É muito importante que estes cuidados se mantenham”, disse o responsável.

“O desafio agora é de tentar recuperar as listas de espera, que foram aumentando”, sublinhou.

O novo presidente da SPC disse que nova direção pretende retomar alguns projetos que a anterior não conseguiu concretizar por causa da pandemia, dando como exemplo o projeto Porthus, um estudo de grande dimensão que pretende avaliar a prevalência real e caracterizar clinicamente a insuficiência cardíaca em Portugal.

A revisão dos estatutos da SPC, a aposta em projetos para aumentar a literacia em saúde na população mais jovem e o reforço do Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia, da SPC, são outras das prioridades da nova direção.

LUSA/HN

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