Fernando Pita: Hipertensão está na raiz das principais causas de demência

7 de Maio 2021

Fernando Pita Neurologista do Hospital de Cascais e membro da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral.

A hipertensão arterial “está etiologicamente implicada quer na demência vascular, quer na doença de Alzheimer, que são as principais causas de demência no nosso País”, alerta Fernando Pita, neurologista do Hospital de Cascais e membro da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral.

HealthNews (HN) – Qual o impacto da hipertensão no risco de eventos cerebrovasculares e na demência?

Fernando Pita (FP) – A hipertensão (HTA) é, dos fatores de risco vascular (FRV), o melhor documentado e de maior prevalência, para todos os tipos de AVC, em todas as regiões do globo e para todos os grupos etários (Interstroke – Lancet 2016;388:761; Global Burden of Disease Study – Lancet Neurol 2016;15:913).

A HTA está etiologicamente implicada quer na demência vascular, quer na doença de Alzheimer, que são as principais causas de demência no nosso País. Calcula-se em 80% o componente vascular na génese da doença de Alzheimer.

HN – O risco é igual nos homens e nas mulheres? O que dizem os estudos?

FP – Em ambos os sexos a HTA é o principal fator de risco vascular.

HN – De que forma a hipertensão e o AVC estão implicados nas demências e são um fator ativo para a doença de Alzheimer?

FP – Os fatores de risco vascular na meia-idade estão associados ao aumento da deposição de substância amiloide cerebral ao longo da vida adulta e no envelhecimento. Os principais FRV, nomeadamente a obesidade, HTA, tabagismo, hipercolesterolémia e diabetes mellitus associam-se ao desenvolvimento da doença de Alzheimer 24 anos depois (JAMA. 2017;317:1443).

A HTA na meia-idade e a correlação com o declínio cognitivo anos mais tarde é um dado amplamente estudado e aceite como válido (Front. Cardiovasc. Med. 2020;7:5).

HN – Quais as estratégias para contrariar o aumento da prevalência da demência?

FP – Modificar 12 fatores de risco pode prevenir ou atrasar 40% das demências.

Na infância e juventude: baixo nível educacional. Na meia-idade (45-65 anos): perda de audição, HTA, obesidade, lesão cerebral traumática e álcool (> 21 unidades/semana). Acima dos 65 anos: tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física, diabetes mellitus e poluição do ar.

A evidência é mais forte para o benefício do tratamento da HTA na meia-idade (Lancet 2020;396:413).

HN – Na sua perspetiva, como devem ser integradas essas estratégias de prevenção do AVC e da demência?

FP – Sendo o AVC e as demências potencialmente evitáveis e as principais causas de incapacidade grave em termos mundiais, partilhando fatores de risco modificáveis, as intervenções devem logicamente ser comuns, integrando estratégias preventivas.

Passam, acima de tudo, pela prevenção primordial, o que implica uma política global de educação para a saúde, com estilos de vida saudáveis: dieta saudável (dieta mediterrânica), manutenção de atividade física adequada ao longo da vida, respeito pelo sono, promoção da escolaridade e da literacia.

Adelaide Oliveira

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