Na sessão de quarta-feira, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten chegou a ser ameaçado de prisão durante a CPI, após os senadores avaliarem que entrou em contradição e que chegou a mentir durante o seu depoimento, mesmo tendo-se comprometido em dizer a verdade.
O presidente da CPI, Omar Aziz, quer agora que o MP avalie se Wajngarten cometeu o crime de falso testemunho durante o depoimento.
“É importante que o Ministério Público averigue se o depoente infringiu o Código Penal, oferecendo a esta CPI falso testemunho ou falsa perícia”, disse Aziz, num despacho lido durante a reunião.
Aziz acrescentou que há perceções de “diversos senadores” de que Wajngarten mentiu à comissão.
Em causa está uma pergunta do relator da investigação, Renan Calheiros, sobre uma entrevista que Wajngarten deu à revista Veja, em que alegadamente acusou o Ministério da Saúde de ter falhado na negociação de vacinas. Contudo, o antigo secretário foi evasivo e caiu em contradição em diversos momentos, irritando os senadores da CPI.
Wajngarten disse que teve reuniões com a equipa da Pfizer para ajudar na negociação e “destravar burocracias”, mas depois negou ter participado nas negociações quando questionado sobre o número de doses oferecidas ao Brasil.
Além disso, o ex-secretário declarou à CPI que uma campanha do Governo, que incentivava a população brasileira a continuar a trabalhar normalmente na pandemia, circulou sem autorização. Porém, foi acusado de mentir sobre o apoio do executivo ao tema.
A sessão, marcada por vários desacatos, chegou mesmo a ser suspensa após uma discussão entre senadores e um dos filhos de Jair Bolsonaro.
Em causa está um pedido de prisão de Wajngarten, por parte de Calheiros, que acusou o ex-secretário de mentir de forma “descarada”, mas que acabou negado.
Contudo, e apesar de não integrar a CPI, o senador Flavio Bolsonaro, filho do chefe de Estado, pediu a palavra e chamou o relator de “vagabundo” por ter defendido a prisão de Wajngarten.
“Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros. Olha a desmoralização”, afirmou Flavio Bolsonaro, causando mal-estar na sala, com uma troca de ofensas e acusações.
A sessão desta quarta-feira ficou ainda marcada pelas revelações de Wajngarten, que admitiu que o Governo ignorou por dois meses os contactos da farmacêutica Pfizer para venda de vacinas contra a covid-19, que já fez 15,3 milhões de casos e 428 mil mortos no Brasil.
Apesar de vários ex-membros do Governo acusarem Bolsonaro de falhas na gestão da pandemia, o Presidente negou, na quarta-feira, temer eventuais consequências provenientes da CPI.
“Não tenho medo de absolutamente nada e digo muito claramente: só Deus vai me tirar daqui (da Presidência). Não queremos desafiar ninguém, eu respeito os outros, mas vão-nos respeitar”, disse o mandatário numa cerimónia do banco Caixa Económica Federal.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.319.512 mortos no mundo, resultantes de mais de 159,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
NR/HN/LUSA
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