António de Sousa Uva Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional da ENSP (UNL)

+COVID-19: já próximo de um em cada dois com alguma imunidade!

05/24/2021

Este mês de maio de 2021 tem sido bem animador, já que a vacinação da população avança, agora, a bom ritmo e em que a actual situação aponta para a quase totalidade dos grupos de cidadãos mais vulneráveis já terem algum grau de protecção específica. Globalmente, não andaremos muito longe de um em cada dois com algum grau de imunidade, se valorizarmos quer a imunidade natural, quer a imunidade adquirida por vacinação, e de mais de 90% a 95% dos grupos mais vulneráveis.

Tal objectiva-se, de resto, nos diversos indicadores da evolução da pandemia em que um actual (e esperado) aumento de casos, consequência do acréscimo de circulação e de comunicação de pessoas, não se acompanha de uma maior letalidade e de pressão das unidades de prestação de cuidados de saúde (infelizmente o verdadeiro “gatilho” de respostas de políticas públicas mais “musculadas”).

Tal reflecte-se, essencialmente e associado ao aumento da cobertura vacinal, nos grupos etários actualmente mais atingidos que eventualmente, é importante ter isso em conta, valorizarão menos a doença e, consequentemente, os hábitos e os estilos de vida mais apropriados e, até, a adesão à vacinação.

Vários exemplos de movimentos de resposta social, não apenas desportivos, indiciam, mais do que no risco de contágio, a diferente valorização que os cidadãos, por exemplo de grupos etários mais elevados, atribuem ao risco de contrair a doença que, no essencial, hipotrofiam a probabilidade em detrimento da gravidade da doença (conceito de risco popularmente muito prevalente). Mais ainda nos grupos etários dos vinte aos quarenta anos que, quase não tendo manifestações clínicas da doença, não lhe atribuem, muitas vezes, muita importância.

Sem dúvida que a melhoria dos indicadores de incidência e de gravidade (como a letalidade) são promotores de um certo “relaxamento” das medidas de distanciamento físico em que, no essencial, reside o sucesso da prevenção do risco de infecção por SARS-Cov-2. E esse é um novo risco que deveria mobilizar a atenção de todos, para além de um mais empenhado investimento no controlo, não só de cadeias de transmissão de casos “visíveis” mas, também de casos “invisíveis” (como já abordei há cerca de uma ano atrás num anterior texto).

Tal deve determinar, para além de estratégias de vacinação “mais inteligentes” como têm vindo a ser implementadas, a procura activa de casos “invisíveis” através da testagem proactiva nos grupos etários agora mais atingidos. Por exemplo, empresas (principalmente as que empregam maior número de trabalhadores no sector secundário), acontecimentos desportivos amadores, universidades e alojamentos residenciais de jovens. E, porque não, sectores decisivos da retoma económica e respectivas áreas geográficas?

É que, com o actual ritmo de vacinação, em cada quinzena, estamos a imunizar cerca de 10% da população (pelo menos para prevenir a doença grave)!

Para além disso, é muito importante conservar as medidas gerais de prevenção com um enfoque muito grande na manutenção do uso de máscara em espaços fechados ainda por mais algum tempo. Ou já esquecemos aquela história de sermos todos agentes de Saúde Pública?

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