“No ano passado, a taxa de feminização da profissão atingiu os 61%”, refere o estudo “Números da Ordem”, que reflete “os grandes números, estimativas e tendências da profissão”.
A média de idades dos dentistas subiu ligeiramente, para os 40 anos, indica a análise, adiantando que perto de 90% dos inscritos na OMD têm nacionalidade portuguesa.
O Brasil tem o maior contingente de médicos dentistas (583) a exercer em Portugal, seguido de Itália (242) e Espanha (171).
O número de alunos estrangeiros tem vindo a crescer de forma consistente e mais do que triplicou desde 2015, sendo maioritariamente oriundos de França (733), seguidos dos da Itália (255) e de Espanha (188).
Segundo o estudo, há 3.771 estudantes inscritos nos sete mestrados integrados de medicina dentária existentes em Portugal e, destes, 1.454 (39%) são estrangeiros.
Em declarações à agência Lusa, o bastonário da OMD, Miguel Pavão, alertou para o excesso de médicos dentistas em Portugal e, ao mesmo tempo, para a dificuldade de grande parte da população em aceder a cuidados de saúde oral por incapacidade económica.
“Desde sempre aquilo que foi a integração de médicos dentistas e, por inerência, o apoio da saúde oral no SNS, através dos cuidados de saúde primários ou através dos cuidados hospitalares, ficou sempre muito negligenciada desde a criação há quatro décadas do Serviço Nacional de Saúde (SNS), lamentou.
Miguel Pavão lamentou que não se tenha conseguido cumprir a tentativa de reforma, desde 2017, de integrar os médicos dentistas nos cuidados de saúde oral, que começou por um projeto-piloto que tinha como meta 265 médicos dentistas integrados em 2020 no SNS.
“Foi uma falha redonda daquilo que era o objetivo e agora há uma nova ambição de repetir ou de reforçar através do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]. Contudo, nós achamos que não são estes números de profissionais que vão (…) conseguir combater aquilo que é uma realidade e que diria até neste caso uma fatalidade para muitos jovens médicos dentistas portugueses”, vincou.
Para o bastonário, não será a integração de 300 profissionais no SNS que vão combater a situação de médicos dentistas que não vão ter emprego em Portugal.
No seu entender, é fundamental também pensar-se em programas que modernizem e melhorem o programa cheque-dentista e a criação de programas com uma parceria entre a vasta rede de medicina dentária no setor privado.
Observou ainda que o programa cheque-dentista ou o projeto-piloto de médicos dentistas nos centros de saúde apenas responde a “uma parte ínfima da população”.
“Nesse sentido, julgo que o Plano de Recuperação e Resiliência falha por não contemplar uma reestruturação a nível público das unidades de saúde oral e por não contemplar uma carreira para os médicos dentistas para o SNS, mas falha também por não haver um investimento a nível do setor privado”, salientou.
Para Miguel Pavão, mais do que dos cuidados assistenciais tem de haver “uma valorização, pela prevenção e valorização”, com outras doenças, como a diabetes.
“É necessário reorganizar os cuidados de saúde primários, através das unidades de saúde oral e, por último, é necessário sabermos qual é o valor investido anualmente”, disse, defendendo que é necessária “uma dotação orçamental para a saúde oral, que não existe”.
Esta situação, fica “bem patente” no PRR, onde essa dotação não existe para a saúde oral, mas existe para outras áreas, nomeadamente a saúde mental, frisou o bastonário.
LUSA/HN
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