Os dados do estudo “Números da Ordem”, realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) e que refletem “os grandes números, estimativas e tendências da profissão”, referem que o número de médicos dentistas com inscrição suspensa na Ordem aumentou 5,7% em 2020, totalizando 1.770, mais 95 comparativamente a 2019.
“No total, 12,5% dos médicos dentistas têm a inscrição suspensa. Destes, a larguíssima maioria suspendeu a inscrição porque emigrou”, apesar dos constrangimentos provocados pela pandemia de covid-19.
A média de idades dos médicos dentistas com inscrição suspensa subiu para os 42 anos. Contudo, a OMD salienta que 55% dos membros suspensos têm menos de 41 anos.
Segundo o estudo, França ultrapassou o Reino Unido como principal destino de trabalho para os dentistas portugueses.
A OMD tem 11.640 profissionais com inscrição ativa, o que significa que existe um médico dentista por cada 884 habitantes quando a recomendação da OMS é de um dentista por 2.000 mil habitantes.
Em 2020, esse número continuou a aumentar (3,8%), com mais 513 dentistas face a 2019, o que representou a entrada de mais 750 membros para a OMD.
“O crescimento de médicos dentistas tem sido constante nos últimos anos, ainda que tenha abrandado em 2020 para o valor mais baixo em mais de uma década”, refere a OMD, indicando que, em 2010, havia perto de 7.000 inscritos, o significa um aumento de mais de 66% numa década.
Fazendo uma análise destes números à agência Lusa, o bastonário da OMD, Miguel Pavão, disse que refletem “uma saturação muito grande no mercado de trabalho em Portugal”.
Segundo Miguel Pavão, há tantos médicos dentistas que o único recurso é a emigração ou a mudança da profissão depois de “um forte investimento na sua formação”.
A Medicina Dentária é um curso de “banda estreita” e, como tal, O dentista tem poucas oportunidades para o mercado de trabalho a não ser exercer a sua profissão.
“Nesse sentido, estes números da Ordem servem não só para mostrar ao Governo, à tutela, esta discrepância, mas também para alertar as gerações mais novas, quem escolhe o ensino superior e, acima de tudo, também as respetivas famílias para esta realidade, porque há um forte investimento na formação” e o país não tem capacidade para “dar emprego digno” a todos.
Miguel Pavão disse ainda ser “um erro” pensar-se que, por se estar a formar mais profissionais, a saúde oral da população está melhor.
“Bem pelo contrário, para isso precisamos de programas e de políticas de saúde oral fundamentadas em apoios alicerçados na prevenção e medidas de saúde pública oral”, defendeu.
Na distribuição geográfica dos médicos dentistas continua a existir uma grande discrepância entre regiões.
Os locais com menos dentistas por habitante são o Baixo Alentejo e o Alentejo Litoral, com um rácio população/médico dentista superior a 2.000.
No extremo oposto, estão a Área Metropolitana do Porto, seguida das regiões de Viseu Dão-Lafões, Coimbra, Terras de Trás-os-Montes, Cávado e Área Metropolitana de Lisboa em que chega a haver um médico dentista para 674 habitantes.
Para Miguel Pavão, estes dados são preocupantes, defendendo que é necessário que “a tutela, nomeadamente a nível do ensino superior, entenda que os números clausus existentes nas universidades têm que ser respeitados”.
Por outro lado, acrescentou, a OMD também continua preocupada com a qualidade do ensino da medicina dentária.
NR/HN/LUSA
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