Moreira da Silva avisa que a crise climática “vai ser muito pior” que a pandemia

28 de Junho 2021

O diretor da Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, Jorge Moreira da Silva, disse esta segunda-feira que a crise climática vai ser "muito pior" do que a pandemia e criticou os atrasos na vacinação contra Covid-19 nos países pobres.

“Quando nos atrasamos na vacinação nos países mais pobres estamos a falhar do ponto de vista ético e moral e estamos a ser irracionais do ponto de vista económico porque não há recuperação da economia global enquanto não houver vacinação nos países em vias de desenvolvimento”, afirmou Jorge Moreira da Silva, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico.

“É altura de os líderes acelerarem a cooperação porque aquilo que nós fizermos nesta pandemia vai ser uma lição para a crise climática, que vai ser muito pior. Na crise climática não é possível distanciamento social, não vai ser possível teletrabalho nem ensino à distância. Vamos lidar com essas consequências em função daquilo que fizermos antes”, alertou.

Jorge Moreira da Silva participou hoje na 2.ª Conferência sobre a fragilidade dos Estados, organizada pelo Clube de Lisboa e pelo G7+.

O ex-ministro do Ambiente, Planeamento do Território e Energia do governo PSD/CDS-PP entre 2013 e 2015 disse ainda que a atual crise provocada ​​​pelo SARS Cov-2 ​​​​acentuou as desigualdades nos 57 países “num contexto de fragilidade” em que duas em cada cinco pessoas “são atiradas” para a pobreza extrema.

Os fluxos financeiros foram afetados, disse Moreira da Silva, sublinhando que o comércio externo caiu 8%, as remessas dos emigrantes caíram 20%, o investimento direto baixou 13% e o turismo “em pequenos países insulares” caiu 70%.

“A única coisa que aumentou foi a ajuda pública ao desenvolvimento, mas isso foi uma pequena gota num fluxo financeiro global que caiu de forma abrupta”, disse.

“Os nossos países, do norte, andam a falar de ‘bazuca’ e de ‘resiliência’ tendo mobilizado um total de 16 triliões de dólares para si próprios como estímulo financeiro. Mas a ajuda pública ao desenvolvimento aumentou oito mil milhões de dólares, duas vezes menos do que os países ricos usam para relançar as próprias economias”, disse Jorge Moreia da Silva.

“Nós ainda temos a Covax com falta de 2,8 mil milhões de dólares para vacinação”, alertou.

O ex-ministro do Ambiente disse ainda que, pela “primeira vez”, o “cidadão da rua” começou a perceber que, se não houver solidariedade com os países em vias de desenvolvimento, a crise pandémica e a crise social e a crise económica “não vão ser resolvidas”.

“Os cidadãos eleitores, os cidadãos consumidores e os contribuintes passaram a ter uma noção da interdependência” a nível global, assim como se notam mudanças “na arquitetura global”.

“A ‘arquitetura global’ está a mexer-se, percebe-se com a criação da Covax que, da noite para o dia, juntou quase 200 países”, destacou, referindo-se ainda aos “passos” do G20 sobre a suspensão do serviço da dívida aos países mais pobres.

“Esta noção de interdependência está a fazer como que os países mais ricos estejam a sair da zona de conforto e aperceberam-se que têm de ser mais ambiciosos em relação aos países mais fracos”, sublinhou.

No mesmo painel da conferência, que decorreu de forma remota, participaram Luís Amado, do Conselho de Supervisão da EDP, Xanana Gusmão, antigo Presidente e primeiro-ministro de Timor-Leste, e Wahidullah Waissi, embaixador do Afeganistão em Camberra, Austrália.

A conferência analisa os esforços nacionais que devem ser combinados com a cooperação internacional e solidariedade para uma luta bem-sucedida contra a pandemia.

O evento conta com 19 participantes de 13 países, incluindo atuais e ex-membros de governos, entidades multilaterais, academia, setor privado, meios de comunicação social e sociedade civil.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Nomeados por Trump representam perigo para Saúde e Segurança

Se forem confirmados pelo Senado, vários dos nomeados pelo presidente eleito Donald Trump para o seu governo representam perigos para a Saúde e Segurança dos Estados Unidos, devido à falta de formação, experiência e promessas alarmantes, disseram à Lusa analistas políticos. 

MAIS LIDAS

Share This