Hélder Mota Filipe candidata-se a Bastonário, por uma Ordem dos Farmacêuticos mais interventiva na definição de melhores políticas de saúde”

06/30/2021
É oficial. O ex-presidente do Infarmed quer ser eleito bastonário da Ordem dos Farmacêuticos no próximo ano. Hélder Mota Filipe promete afirmar a profissão farmacêutica e reforçar o seu papel nas decisões de políticas de saúde. Em entrevista ao nosso jornal o “farmacêutico de corpo inteiro” lamenta “a má utilização das competências” dos profissionais no SNS e defende uma maior articulação na referenciação dos doentes. “O aproveitamento das competências dos farmacêuticos resulta numa maior capacidade de ganhos em saúde”, garante.

HealthNews (HN)- Está a preparar uma candidatura às eleições do próximo ano para a Ordem dos Farmacêuticos. O que o motivou a dar este passo?

Hélder Mota Filipe (HMF)- Foi quase que uma obrigação pelos mandatos da bastonária anterior. Senti que poderia contribuir para continuar o trajeto desenvolvido pela Professora Ana Paula Martins no sentido de afirmar a profissão farmacêutica e de a tornar mais visível e reconhecida

HN- Quais são os principais desafios que irá abordar se for eleito?

HMF- O grande desafio é aprofundar o papel do farmacêutico como profissional de saúde que pode desempenhar uma função importantíssima na utilização dos medicamentos. Isto irá contribuir para os melhores cuidados de saúde, assim como para uma utilização mais custo-efetiva dos recursos.

HN- Neste momento quais são os principais problemas que afetam a profissão?

HMF- Um dos problemas tem a ver com a realidade económica que vivemos e que se aproxima devido pandemia. Vamos ter uma crise económica e os medicamentos inovadores que chegam ao mercado são muito caros. Portanto, é fundamental a intervenção do farmacêutico no sentido de habilitar as melhores escolhas, garantido o acesso dos doentes às terapêuticas que necessitam.

Outro aspeto importante diz respeito à própria realidade sociodemográfica da profissão. É uma área composta por profissionais jovens em que a realidade se veio alterar. Somos cada vez mais uma profissão de trabalhadores assalariados. Esta realidade tem de ser tida em consideração, sendo, por isso, fundamental, que se criem as condições necessárias para que os farmacêuticos possam ver garantido o exercício adequado da profissão, nomeadamente ao nível da liberdade técnico-científica.

Há um conjunto de desafios, mas também de grandes oportunidades para o desenvolvimento da profissão farmacêutica.

HN- A sua candidatura visa um maior envolvimento da ordem dos farmacêuticos nas decisões de políticas de saúde e um maior aproveitamento das competências destes profissionais. Se for eleito em que áreas é que pretende centrar essa intervenção?

HMF- Há uma área bastante importante, que referi no anúncio da minha candidatura, e que é o envolvimento ativo nas políticas de saúde. É fundamental ter em consideração que no orçamento do Serviço Nacional de Saúde [SNS] o medicamento pesa cerca de 20%, uma percentagem enorme. Portanto, é essencial gerir adequadamente os recursos e na área do medicamento não se consegue gerir recursos sem a intervenção do farmacêutico.

Para mim é claro que a Ordem dos Farmacêuticos pode ter um papel muito importante na definição de melhores políticas de saúde em Portugal.

HN- Considera que o papel dos farmacêuticos tem sido menosprezado? 

HMF- Não usaria esse termo. Considero que o papel dos farmacêuticos não tem sido aproveitado na sua plenitude. A má utilização das competências destes profissionais é também uma má gestão de recursos. Portanto, o aproveitamento das competências dos farmacêuticos resulta numa maior capacidade de ganhos em saúde. É vantajoso para os doentes e para o sistema de saúde.

HN- O que é necessário para aproveitar o potencial dos farmacêuticos “na sua plenitude”?

HMF- Em primeiro lugar é preciso que haja farmacêuticos nos locais onde são necessários e que os haja no número adequado, algo que não acontece.

É ainda necessário que sejam garantidas as condições técnicas e de trabalho para que os profissionais possam exercer adequadamente a sua intervenção.

A situação real está muito longe de cumprir estas condições e, por isso, é fundamental assegurar estes fatores porque só assim é que se consegue maximizar o efeito da intervenção dos farmacêuticos no SNS. 

HN- Propõe que os farmacêuticos possam referenciar doentes dentro do sistema. Esta vontade não irá colidir com as competências dos enfermeiros que atualmente desempenham esse papel?

HMF- Não. Tenho uma visão de complementaridade do sistema de saúde e das profissões que o compõem, com o doente no centro. Cada um deve exercer as suas competências, tendo em consideração o local onde se encontra e o interesse do doente. Portanto, a minha eleição não vai estimular dificuldades de articulação com outras profissões, bem pelo contrário.

Não há dúvida de que que as farmácias comunitárias são uma porta de entrada no sistema e é fundamental que o sistema aproveite, da forma mais adequada, esta porta de entrada. Como acontece em Portugal e em muitos outros países desenvolvidos, as farmácias vão desenvolvendo um conjunto de serviços, sempre de acordo com as suas competências, que permitem aliviar a pressão nos cuidados primários e nas urgências hospitalares. Se conseguirmos maximizar isso não estamos a competir com outros profissionais. Estamos, sim, a complementar e a ajudar outros profissionais a desenvolverem outras atividades que também têm que desenvolver de maneira mais adequada. 

HN- Caso seja eleito bastonário irá continuar a dar aulas na Faculdade de Farmácia?

HMF- Vou estar farmacêutico de corpo inteiro, mas a minha prioridade será a Ordem dos Farmacêuticos. Contudo, não abdicarei, no meu tempo livre, de ter alguma atividade de docente e de investigação científica.

HN- Uma nota final

HMF- Todos os farmacêuticos podem contar comigo até ao máximo das minhas capacidades na luta pelo prestígio e pelo desenvolvimento da profissão.

Entrevista de Vaishaly Camões

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