Quando o mundo soube que, pela primeira vez na história, um grupo de cientistas tinha sido bem-sucedido no nascimento de um mamífero clonado a partir de uma célula adulta, abriu-se um mundo de aparentes possibilidades.
O debate estava lançado e foi rapidamente dominado por algo que, até então, parecia não ser mais do que ficção científica – a clonagem humana. Esse passo permitira prevenir doenças, mas também permitira a criação de seres humanos perfeitos através da manipulação genética.
Entre ambições otimistas e receios, a ciência não chegou, nem a deixariam chegar tão longe, com vários países a proibirem essa prática em humanos.
No entanto, em 2002, o mundo foi surpreendido com a notícia de que uma empresa ligada a uma seita (os raelianos), tinha clonado uma pessoa e que esta já tinha nascido e sido batizada com o nome de… Eva.
A notícia não foi levada a sério pela comunidade científica, mas a Clonaid manteve sempre a história e chegou a anunciar o nascimento de dezenas de outras crianças graças à clonagem, sem apresentar, no entanto, quaisquer provas dos feitos.
Vários anos mais tarde, a manipulação genética em humanos voltou a ser notícia, quando em novembro de 2018 um cientista chinês afirmou ter ajudado a criar os primeiros bebés geneticamente manipulados – gémeas cujo ADN He Jiankui disse ter alterado com tecnologia capaz de reescrever o “mapa da vida”, com o objetivo de as tornar resistentes ao vírus da Sida.
O cientista disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até àquela altura, um alegado feito que motivou a condenação da comunidade científica internacional, e não tardou muito para a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciar a criação de um grupo de trabalho sobre manipulação genética.
He Jiankui acabou por ser condenado pelas autoridades chinesas a três anos de prisão por exercício ilegal da medicina, depois de uma investigação ter concluído que o cientista desafiou a lei e a integridade científica.
Ao contrário da clonagem humana, que tudo aponta nunca ter sido bem conseguida, a clonagem de outros animais continuou depois de Dolly ter aberto essa porta, estendendo-se até aos animais domésticos.
Snuppy, um galgo afegão, que nasceu em 2005, foi um, e antes dele, em 2001, tinha nascido o gato CC (de “Copy Cat”), o primeiro gato clonado, que viveu uma longa vida de 18 anos até março de 2020, quando morreu por falência renal.
Em Portugal, a falta de verbas inviabilizou o projeto de clonar um bovino, experiência proposta pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), no Porto, mas um outro projeto, também com o carimbo português, conseguiu clonar com êxito um rato de laboratório, numa parceria com Ian Wilmut, o “pai” de Dolly.
O rato Figo, que nasceu em pleno Euro 2004, resultou de uma técnica inovadora na área da clonagem que na altura motivou o interesse de vários países em aplicá-la a roedores e a outros animais de maior porte.
Ao longo dos anos mais recentes, a famosa ovelha Dolly, que celebraria agora o seu 25.º aniversário continuou a inspirar a ciência e em 2018 nasceram na China os primeiros macacos clonados com o mesmo método.
Ao contrário da ovelha Dolly, que foi clonada a partir do ADN de células diferenciadoras de uma ovelha adulta, os macacos Zhong Zhong e Hua Hua resultaram de uma célula diferenciadora em estado embrionário, o fibroblasto, que existe no tecido conjuntivo.
Na mesma experiência, foram também usadas células adultas, mas os macacos clonados só sobreviveram algumas horas após o nascimento.
Mas mais do que permitir a clonagem de animais, o nascimento de Dolly e o caminho que abriu na área da manipulação genética permitiu um maior conhecimento de doenças, motivou investigações ao nível das células estaminais, da sua existência e utilização, das aplicações ao nível da regeneração de tecidos e órgãos.
Os medos da altura não se confirmaram e 25 anos depois a ciência que ajudou a criar a ovelha mais famosa do mundo continua a percorrer o seu caminho, num sentido que parece positivo.
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