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O que aprendi no meu 1.º ano em Medicina
Entrei pela primeira vez na Escola de Medicina da Universidade do Minho no dia 2 de outubro de 2020. Cheio de expectativas, curiosidade, ânimo e excitação, mas ao mesmo tempo ansiedade, medos, receios e incertezas. Não fazia ideia do que se avizinhava: as descobertas, o crescimento, as aprendizagens, as experiências, as novas amizades, entre muitos outros aspetos positivos e negativos que os últimos meses trouxeram.
Vim para Medicina devido ao meu fascínio pela área da saúde e pela profissão de médico, especialmente pela forma como consegue impactar a vida dos outros. Sempre quis saber mais sobre como é que o organismo funciona, como é que as várias doenças afetam este funcionamento e como é que a intervenção da ciência é capaz de devolver o bem-estar às pessoas. No final deste ano, efetivamente aprendi bastante sobre esta área tão fascinante e sinto que já consigo olhar para o que me rodeia de outra forma, especialmente no que diz respeito à saúde. Para além disso, aprendi bastante sobre o que é ser médico e cada vez mais percebo que é uma profissão que envolve muito mais do que o diagnóstico e o tratamento de doenças por si só, envolvendo uma abordagem holística do ser humano, no sentido de contribuir para o seu bem-estar em todas as vertentes.
Um dos primeiros “abanões” que sentimos ao entrar em Medicina acontece quando nos apercebemos da imensidão do conhecimento nesta área e da impossibilidade de irmos para um exame a saber tudo, ao contrário do que acontecia no secundário. Por vezes, especialmente no início, esta perceção fez-me sentir impotente e duvidar da minha capacidade para completar este curso tão longo e exigente. No entanto, ao perceber que este sentimento era normal e comum aos meus colegas, percebi que não havia razão para estar tão assustado, porque, afinal, estávamos todos no mesmo barco. Este “abanão” faz qualquer pessoa perceber que não há qualquer problema em não saber tudo, em ter dúvidas, em não fazer ideia de como estudar (cada pessoa acaba por descobrir o seu método de estudo), em ter dificuldades e em pedir ajuda, dado que o apoio dos nossos colegas e amigos é uma ferramenta extremamente importante para conseguirmos alcançar os nossos objetivos.
Este último ponto leva-me a abordar um aspeto muito marcante deste 1.º ano em Medicina: as novas amizades. Outro “abanão” que sentimos ao entrar na universidade é o contacto com tantas pessoas desconhecidas, com tanta diversidade, vindas de todo o mundo e com as quais vamos invariavelmente ter de contactar. Inicialmente, todos estes contactos parecem difíceis de digerir e parece impossível desenvolvermos amizades no meio de tanta gente. De forma gradual, começamos a perceber com quem nos identificamos e, muito devido ao facto de estarmos todos no mesmo barco, as amizades surgem relativamente rápido. Os amigos que fazemos dentro do curso são mesmo muito importantes, ou mesmo imprescindíveis, para o nosso percurso. É com estas pessoas que vamos partilhar os bons e os maus momentos, os sucessos e os insucessos, os receios, as inseguranças, as crises existenciais, os sonhos. É com elas que vamos celebrar quando as coisas estiverem a correr bem e é com elas que vamos poder contar para nos ajudar a manter a cabeça erguida quando for necessário.
Aprendi que, para além do estudo e das nossas capacidades intelectuais serem muito importantes para o sucesso académico, as pessoas que nos acompanham, que sabem pelo que estamos a passar, que têm os mesmos receios e que partilham os mesmos sonhos que nós, são essenciais para atingir esse sucesso.
Um dos maiores desafios deste 1.º ano foi sermos pioneiros no novo plano curricular adotado pela Escola de Medicina: o MinhoMD. Este plano curricular, focado na formação dos “médicos do futuro”, pautado por uma grande autonomia na aprendizagem, baseado em casos clínicos e com o objetivo de estimular em nós desde cedo as competências essenciais para a nossa futura profissão, foi sem dúvida um grande desafio, especialmente na fase inicial.
Toda a metodologia era muito divergente da do ensino secundário, não estávamos habituados a ter de aprender tanto por nós mesmos, tivemos de aprender a procurar informação em livros enormes onde parecia impossível encontrar o que quer que seja, o nosso método de estudo teve de ser reformulado… A verdade é que, depois de vários meses e de algumas dificuldades, sinto que adquiri determinados conhecimentos e competências, especialmente no meu raciocínio clínico, no espírito crítico, na relação entre as várias ciências básicas da Medicina ou mesmo na procura por informação.
O 1.º ano em Medicina é uma experiência muito intensa. Aprendemos muito sobre a nossa área de estudos, mas também sobre nós mesmos, desenvolvemos competências que nos vão ser muito úteis para o nosso futuro enquanto profissionais e enquanto pessoas, e fazemos amigos que nos vão acompanhar durante muito tempo. No final, encontramo-nos mais próximos dos nossos sonhos – que pareciam muito mais longínquos e inalcançáveis.
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