Muitas das cirurgias urológicas, quando realizadas de forma clássica ou tradicional, envolvem grandes incisões, como na cirurgia por cancro da bexiga, ou incisões muito dolorosas como a cirurgia do rim. A cirurgia minimamente invasiva, ou conhecida pelos doentes como “cirurgia pelos furinhos”, constituiu um enorme avanço na possibilidade de oferecer bons resultados clínicos com um pós-operatório incomparavelmente melhor.
A cirurgia minimamente invasiva, seja a laparoscopia tradicional ou a cirurgia robótica, consiste na realização da técnica cirúrgica de que o doente necessita sem ter que se proceder a uma grande incisão para expor os órgãos, recorrendo para tal a pequenas incisões (os tais “furinhos”) onde entram os instrumentos para o cirurgião trabalhar e uma câmara para se poder visualizar o interior. Para podermos ver corretamente e conseguir manobrar os instrumentos em segurança é necessário criar espaço dentro da barriga dos doentes. Este espaço é criado através da insuflação de ar (concretamente CO2), razão pela qual os doentes têm que ser submetidos a uma anestesia geral.
Na urologia são muitas as cirurgias que hoje se podem realizar por laparoscopia ou cirurgia robótica com bons resultados. Na patologia benigna destacam-se a correção de defeitos congénitos do rim ou o reimplante do ureter como exemplos de cirurgias com resultados completamente sobreponíveis aos da cirurgia clássica, mas com uma recuperação pós-cirúrgica bem mais rápida. Na patologia oncológica é impossível não destacar o cancro do rim onde a cirurgia laparoscópica está hoje na primeira linha de recomendação de todas as sociedades científicas internacionais. Quando realizada por uma equipa experiente, esta cirurgia tem ótimas taxas de sucesso e oferece ao doente um pós-operatório de alguns dias por oposição a meses de recuperação completa da cirurgia tradicional. Também na remoção de apenas o tumor do rim, permitindo poupar o restante órgão, é hoje possível realizar a cirurgia sem uma grande incisão e num tempo do cirurgia adequado.
A cirurgia do cancro da próstata é realizada num espaço mais pequeno e muito limitativo para os movimentos: a cavidade pélvica. Estas dificuldades técnicas associadas à necessidade de se obterem bons resultados funcionais deu um grande impulso à cirurgia robótica. Quer por laparoscopia quer por cirurgia robótica é hoje possível realizar a cirurgia por cancro da próstata com resultados, se não superiores, pelo menos sobreponíveis aos melhores resultados da cirurgia clássica. Acresce que nos últimos anos, a melhoria da qualidade de imagem (imagens 3D, ampliadas, com alta resolução) e dos instrumentos cirúrgicos (pinças robotizadas ou braços robóticos) melhorou ainda mais a qualidade do desfecho cirúrgico e o pós-operatório, que é cada vez mais curto.
É fundamental perceber que os instrumentos de laparoscopia ou o robot não operam sozinhos e nunca serão tão determinantes para o resultado final como o cirurgião. No entanto, equipas cirúrgicas com experiência obterão melhores resultados globais utilizando as novas tecnologias de forma criteriosa e expedita.
As melhorias no pós-operatório dos doentes devem-se muito à menor agressão a que são submetidos e permitem, por exemplo, a correção da bexiga descaída por via abdominal com 1 dia de internamento, a remoção do rim com dois dias de internamento ou a remoção da próstata com 2 dias internamento. Permitem ainda Incisões mais pequenas, mas também menos exposição dos órgãos ao meio ambiente (como na cistectomia), que constituem fatores determinantes para os tempos de internamento.
Hoje em dia, praticamente todas as cirurgias são passiveis de serem realizadas por laparoscopia ou cirurgia robótica e tal já acontece nos principais centros de referência nacionais e internacionais. Esta tendência irá acentuar-se com o passar do tempo, com a melhoria das tecnologias e a sua dispersão por todos os serviços. É para mim inquestionável o benefício decorrente da sua utilização.
tr@tiagorodriguesurologia.pt
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