Cólica Renal

20 de Julho 2021

Tiago Rodrigues Urologia Hospital Particular do Algarve, Joaquim Chaves Saúde

As cólicas renais são bastante frequentes na população e têm tendência para aumentar com o início do tempo mais quente. A principal causa de cólica renal são os cálculos urinários, também conhecidas como pedras dos rins.

Os cálculos urinários podem ser assintomáticos e sair sem que o doente se aperceba; originar um desconforto ou dor, que é autolimitada; desencadear uma dor muito intensa e incapacitante ou mesmo necessitar de cirurgia, mais ou menos urgente.

O cálculo é uma massa dura que se forma quando os minerais e sais da urina cristalizam. Se estes cristais não forem expulsos vão crescendo até ao tamanho em que constituem um problema. De forma rude dizemos que até aos 5 mm de diâmetro têm uma elevada probabilidade de “sair sozinhos”. Sair sozinhos não significa, de todo, sair sem dor, significa que não é necessário um tratamento ativo, habitualmente a cirurgia. Entre os 5 e os 10 mm o prognóstico é bastante variável e deveremos considerar múltiplos fatores como a reserva funcional do doente ou o seu biótipo para decidir o melhor tratamento. Com mais de 1 cm, em regra, a probabilidade de expulsão espontânea é reduzida e a hipótese de ser necessário uma cirurgia aumenta consideravelmente.

É fundamental perceber que nem todas as dores de costas, por mais intensas que sejam, são provocadas por cálculos renais. Na realidade, para existir uma cólica renal é obrigatório que exista um aumento da pressão da urina no rim. Este aumento de pressão acontece quando existe um bloqueio à passagem da urina no ureter devido a um cálculo encravado. Assim, facilmente percebemos que existem duas condições necessárias à cólica renal: que o cálculo esteja no ureter (entre o rim e a bexiga), e que o mesmo esteja a bloquear a passagem de urina. Este mecanismo fisiopatológico condiciona também a existência uma dilatação do rim, decorrente do aumento de pressão, o que vai facilitar o diagnóstico.

No diagnóstico de cólica renal é essencial a história clínica com a ordem cronológica dos sintomas, bem como os antecedentes pessoais e familiares que permitam suspeitar da doença. Mas é fundamental comprovar a existência da tal dilatação do rim, habitualmente através de uma ecografia. Neste exame poderá também ser possível visualizar as dimensões do cálculo e definir a estratégia terapêutica adequada. Caso não se consiga visualizar o cálculo, e em situações específicas, estará indicado a realização de uma TAC (tomografia computorizada).

Em simultâneo com o diagnóstico de cólica renal é obrigatório avaliar a existência de sinais de alarme que alertam para a gravidade da situação. A febre, vómitos constantes ou alterações importantes da função renal ou dos parâmetros de infeção obrigam a um tratamento agressivo e que passará por uma cirurgia urgente. Sem sinais de alarme é possível optar por um tratamento conservador, que consistirá em diminuir a dor e aumentar a probabilidade de expulsão espontânea dos cálculos. Caso surjam os sinais de alarme ou se a situação não se resolver com o tratamento conservador avança-se para a cirurgia.

A cirurgia, nos casos urgentes, tem como único objetivo aliviar a pressão da urina no rim, resolvendo a dor e permitir tratar a infeção. O alívio da pressão é conseguido colocando um pequeno tubo que permita a passagem da urina. Este tubo (stent ureteral ou duplo J) é colocado entre a bexiga e o rim. Nos casos em que este procedimento não seja possível, terá que se colocar um tubo diretamente através das costas (nefrostomia percutânea). O tratamento do cálculo, em si, e a resolução definitiva do problema é muitas vezes feita posteriormente, procedendo-se à destruição do cálculo por métodos físicos, habitualmente o laser.

Os doentes que tiveram uma cólica renal têm em risco aumentado de virem a ter mais cólicas no futuro pelo que têm uma indicação ainda mais forte para adotarem estilos de vida e hábitos protetores:

  • beber 2,5 litros de líquidos por dia;
  • manter uma ingestão de água dispersa ao longo de todo o dia;
  • optar por bebidas com pH neutro como a água;
  • manter uma urina clara ao longo de todo o dia, em especial na primeira micção do dia;
  • manter uma dieta variada e equilibrada;
  • ingerir frutos vegetais e fibras, evitando os suplementos;
  • garantir a ingestão de uma quantidade suficiente de cálcio (cerca de 1000 a 1200 miligramas dia);
  • evitar o sal e as carnes vermelhas;
  • evitar o excesso de peso corporal.

tr@tiagorodriguesurologia.pt

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