HealthNews (HN)- Qual o balanço que faz do Webcast Wecare – Utilização da Canábis medicinal em contexto de Cuidados Paliativos? Veio responder às dúvidas dos paliativistas?
Catarina Pazes (CP) – Sim. O evento decorreu exatamente como planeado. Tivemos uma formação inicial sobre a canábis medicinal e a sua utilização em Cuidados Paliativos. Contudo, foi necessário fazer-se também uma contextualização, que esteve a cargo do Dr. Janosch Kratz, um especialista na área, com muito conhecimento sobre o fármaco e com larga experiência na sua utilização.
O evento foi muito profícuo, até porque, depois deste momento, foi possível uma conversa entre os vários palestrantes e moderadoras sobre o medicamento. Os profissionais presentes puderam colocar dúvidas e discutir sobre a utilização da canábis medicinal, tendo em conta o que é perspetivado e as possibilidades de utilização do medicamento em Cuidados Paliativos.
O webcast durou cerca de 1h30 e tivemos mais de 300 assistentes, participação que mostra bem o interesse em saber mais sobre esta área.
Agora, é preciso pensar em outro tipo de formações, com uma perspetiva multidisciplinar. É importante envolver quem prescreve, quem avalia, quem monitoriza e quem acompanha o doente diariamente.
Todos os envolvidos na prestação de cuidados precisam de estar mais capacitados e informados, sobre as diferentes terapêuticas, de forma a poderem ajudar, da melhor forma possível, os doentes e as famílias. Este webcast foi um primeiro passo para a formação nesta área.
HN- Tal como referiu, foram faladas as possibilidades de utilização da canábis medicinal nos doentes em Cuidados Paliativos. Quais são elas?
CP- As possibilidades estão dentro do controlo de sintomas, para além da dor. Ficou claro que este fármaco pode ser útil em outros sintomas, também frequentes em contexto de Cuidados Paliativos, como sejam as náuseas, os vómitos, a falta de apetite, a espasticidade e o mal-estar geral.
Sendo um fármaco que pode ser um adjuvante no controlo da dor e destes sintomas, desperta interesse aos paliativistas.
HN- Numa entrevista anterior à realização do webcast, referiu que iam abordar a forma de utilização deste fármaco na prática diária. Esta temática ficou clarificada?
CP- Em teoria, conseguimos clarificar a forma de utilização e a razão de ter sido escolhida esta formulação inalatória. Porém, na prática clínica, é preciso ainda clarificar esta temática junto de quem administra e ensina o doente e a família a utilizar o fármaco. E inclusivamente abordar a forma de iniciar e de ajustar a terapêutica no dia a dia.
Teremos de organizar uma formação diferente deste webcast, promovida e dinamizada presencialmente, junto dos profissionais. Deve ser uma ação prática, para que as pessoas possam manusear o fármaco e colocar as dúvidas que lhes surjam no momento.
É necessário, tal como já referi, que as próximas formações sejam promovidas junto das equipas, de forma a dinamizar momentos de discussão multidisciplinar, com intervenção dos vários elementos das equipas: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais… Todos os profissionais que, de algum modo, colaborem na aquisição, manuseamento e ensino à família.
HN- Estas questões da aquisição, manuseamento e ensino serão os principais desafios que se colocam, tanto aos profissionais de saúde, como aos doentes e cuidadores?
CP- Sem dúvida! Pelo custo associado ao fármaco, que ainda não é comparticipado. Esse é um grande desafio, porque alguns doentes, que podem ter benefício com a utilização do medicamento, vão ter capacidade financeira para o comprar e vão fazer esse esforço. Porém, para outros doentes essa situação não é viável e vai ser preciso encontrar alternativas.
Felizmente, existem muitas armas terapêuticas para tratar a dor e os outros sintomas, mas, se este fármaco apresenta outras vantagens, faz sentido que se faça um esforço e que, os profissionais de saúde, mas também da sociedade em geral, se mobilizem, para que seja comparticipado no futuro.
HN- Qual a mensagem-chave deste webcast?
CP- A mensagem-chave será sempre a importância da procura do conhecimento e da base científica para qualquer tomada de decisão. Não se tomam decisões clínicas, nem terapêuticas, sem uma base científica. Os doentes têm de estar seguros de que os profissionais fazem as melhores escolhas para cada caso e em cada momento.
Esta é a melhor mensagem e adequa-se também à canábis medicinal. Se este medicamento vai ser proposto por uma equipa médica, é porque é uma boa escolha para aquele doente, naquele momento.
Esta é uma mensagem que a associação quer promover, para que haja mais segurança nos profissionais de saúde e nas equipas de Cuidados Paliativos; e para que se compreenda que este é um trabalho muito específico, altamente especializado e que implica uma procura permanente de conhecimento.
HN- Para quando o próximo evento?
CP- Ainda não está agendado. Vamos ver se será possível organizar ainda este ano. Caso contrário, será seguramente no início do próximo. É preciso organizar a agenda, de forma a poder conciliá-lo com outras iniciativas, que a associação está a promover.
HN/MMM
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