“Sangue não se compra e não se comprando depende da boa vontade de alguns, daqueles que sabem que têm algo que faz falta a outros. Se fosse um bem negociável, não havia esta preocupação, mas é um bem escasso que depende da solidariedade”, afirmou hoje Cristina Neves, médica do serviço de Imunohemoterapia do CHUSJ.
Entre janeiro e julho deste ano foram 12.334 os dadores inscritos naquela unidade hospitalar, o que comparativamente a 2019, em que eram 12.913, representa uma quebra de 4%.
No mesmo período deste ano foram ainda realizadas 9.243 dádivas de sangue, menos 9% do que no ano antes da pandemia da Covid-19, em que foram 10.103.
Em declarações à agência Lusa, Cristina Neves disse que as quebras são reflexo “não de solidariedade”, mas do “medo” que muitos dadores tiveram em se deslocar às instalações do hospital devido à pandemia da Covid-19, principalmente depois do Natal, período em que o número de novos casos de SARS-CoV-2 aumentou exponencialmente.
“Tudo isto motivou um decréscimo de dadores e de colheitas”, disse, acrescentando, no entanto, que apesar do medo, os doentes que ingressavam nas urgências do hospital “vinham num estado muito debilitado”.
“Em período de pandemia, a dádiva de sangue assume ainda um papel mais crucial, porque são menos a doar, são menos a gastar porque entram menos doentes, mas quando entram, gastam muito mais”, referiu a médica, que presenciou casos nas urgências que “já não via há muitos anos”.
Apesar dos apelos do hospital para a dádiva de sangue, “a resposta não tem sido a desejada”.
Com uma reserva de sangue do tipo A positivo (A+) para oito dias, do tipo A negativo (A-) para sete dias e meio, do tipo O positivo (O+) para 14 dias e meio, e de O negativo (O-) para 15 dias e meio, Cristina Neves apelou para a necessidade de se doar sangue.
“Todos os tipos de sangue são necessários porque não sabemos o que pode acontecer. Temos de estar preparados para os doentes que já estão cá dentro, mas também para todos aqueles que por uma situação urgente têm de recorrer a uma urgência”, salientou.
Ainda que a reserva de sangue seja renovada diariamente, “não se repõe à velocidade que se gasta”.
“Obviamente que podemos entrar numa reserva que cai em números que não gostamos”, afirmou a médica, salientando que o Hospital de São João “não está habituado a isso”.
“Sentimos mais esta falta porque não estávamos acostumados. No hospital sempre tivemos boas reservas, nunca adiámos cirurgias e queremos apelar para que não tenhamos que tomar essas medidas, que já não tomamos há décadas”, sublinhou.
À Lusa, a clínica disse ainda que o acesso ao banco de sangue do Hospital de São João está “muito facilitado” e que não é necessário entrar nas instalações, uma vez que todo o processo de dádiva decorre no exterior da infraestrutura hospitalar e com todas as medidas de higiene e segurança.
LUSA/HN
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